quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

STEVEN MORRISSEY

(The Queen is alive)

“O maior inglês vivo” é também a grande influência da música alternativa. Nenhum artista sério surgido após o lançamento do primeiro álbum dos Smiths, lá pelo ano de 1984, nega essa referência. Morrissey é a grande herança dos Smiths. Suas letras, melancólicas para uns, sarcásticas para outros, são os salmos da década de 80. Sabe quando uma banda é considerada uma religião? Pois então: The Smiths é uma religião. E, como eu mesmo já li, uma das três maiores bandas de todos os tempos, sejam quais forem as outras duas.

Os Smiths tiveram carreira curta. Acho que nem dez anos completaram e lançaram quatro álbuns de estúdio, vários singles e algumas compilações. Curioso é que a música mais famosa da banda, How Soon Is Now? (da letra: “I’m human and I need to be loved, just like everybody else does – Eu sou humano e preciso ser amado, assim como todo o mundo”, que concentra bem a temática de Morrissey), foi lançada como single lado b após o primeiro disco. Depois do fim, Morrissey fez alguns trabalhos solo. O mais recente, de 2006, é Ringleader of The Tormentors.

E cá está o Sir “Irish blood, english heart” n’O Caralho. Sexualmente, ele não me atrai muito. É delicado demais pra mim, sou mais chegado num cafajeste que maltrata, mas não posso negar que o que lhe atormenta o coração me comove também. Sem falar que um blogue gay a tratar de música, ou de qualquer coisa!, não pode de maneira alguma deixar de mencionar esse cara. Voltando aos superlativos, e talvez eu me arrependa de dizer isso, é sabido que Morrissey é o maior ícone gay da música. O mais respeitado ao menos.

Tudo bem que ele passou a vida fazendo cu doce, se dizendo assexuado, e só agora dá sinais de alguma libido lhe fervendo o sangue. Tudo bem também que, como sempre, suas letras não sejam necessariamente explícitas. The Boy With The Thorn In His Side, umas das que mais gosto, é belíssima se você decide interpretá-la como algo gay, mas não há uma palavra que lhe carimbe esse rótulo: “How can they see the love in our eyes / And still they don't believe us? / And after all this time / They don't want to believe us – Como eles podem ver o amor em nossos olhos / E ainda não acreditar em nós? / E depois de todo esse tempo / Eles não querem acreditar em nós”. Não dá pra negar, entretanto, que mesmo na sua dubiedade, mesmo nas coisas não ditas, Morrissey se fazia entender. Suas angústias, suas aflições, suas tristezas, sentimentos universais, mas nós sabíamos, sempre sabíamos, sobre o que ele cantava. Sua postura diante da vida não é ambígua.

Para os brasileiros, é quase irresistível a comparação do ídolo oitentista com um nosso, da mesma época: Renato Russo. Talvez a intenção seja a mesma, talvez a importância seja a mesma, guardadas as proporções. Renato pra mim canta melhor, tem letras boas também, mas a produção musical de suas canções não chega perto da do inglês. E tal comparação, para muitos, é mais uma ofensa a Morrissey que uma tentativa de valorização do líder da Legião Urbana. Como já disse um amigo: “A única coisa em comum entre Morrissey e Renato Russo é a proeza de terem colocado versos homoeróticos na boca de milhões de adolescentes”.

Hoje o eterno vocalista dos Smiths beira os cinqüenta anos, veste terninho para envelhecer com elegância e está a toda com seu trabalho, mesmo porque os anos 80 sofreram uma revalorização nos últimos tempos e todos os hits dessa época tocam à exaustão em qualquer balada. Penso até que os anos 80 se tornaram o sorvete de creme das “buati”. Sabe? Em qualquer festa, um sempre odeia chocolate, outro coco, outro morango, então o anfitrião serve sorvete de creme, porque não tem sabor, cheiro nem cor, e todo o mundo come. Numa balada hoje é assim: quer ficar em cima do muro, dá-lhe anos 80! E dancemos felizes (ou não) para sempre.

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