domingo, 2 de março de 2008

RODRIGO AMARANTE

Alguma coisa acontece que as principais bandas de rock do Brasil não são necessariamente de rock. Isso desde lá dos tempos antigos, onde bandas com elementos roqueiros inquestionáveis acrescentavam ao seu som instrumentos e parafernálias incomuns ao rock. Tornavam-se então fenômenos também da MPB – também ou principalmente. Com os Los Hermanos é assim. 

Surgiram com o primeiro álbum, homônimo, lá pelo ano de 99, e se diziam hardcore. Fizeram um baita sucesso com uma música pop chamada Anna Júlia, tanto sucesso que a banda se sentiu incomodada, vai saber se pelo apelo midiático natural nesses casos, ferindo uma suposta personalidade introspectiva e “underground” dos rapazes, ou pela ridicularização da música e da banda por quem entendia de hardcore. Depois disso, lançam em 2001 o Bloco do Eu Sozinho, disco bem afastado do estilo do primeiro e começam a rolar boatos de que a banda renegaria Anna Júlia. Com o segundo álbum, Los Hermanos perde em popularidade e ganha em conceito, passa a ser mais respeitada e admirada por críticos, bichos-grilo e gente graúda da música brasileira.

Hoje o Los Hermanos tem quatro discos, o mais famoso é o Ventura, de 2003, entrou num recesso por tempo indeterminado e segura a onda de ser uma das bandas mais importantes do cenário atual, justamente por sua proposta de mesclar vários estilos musicais, como a bossa nova, o samba e o rock, continuando como uma banda jovem, e por sua carreira irregular, em que cada álbum parece um passo rumo a um destino pouco claro. Há quem os considere intelectualizados demais, ou mesmo chatos e herméticos, porém suas composições têm sido regravadas por diversos artistas e há quem diga, os mais extasiados, claro, que Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, chefes da banda, sejam os novos Chico Buarque e Caetano Veloso.

Deslumbres à parte, eu mesmo acho as canções dos Los Hermanos entre as coisas mais sensíveis e bonitas que tem se visto nos últimos anos. E Marcelo e Rodrigo donos de poesias tão diferentes que é incrível que se complementem tão harmonicamente num único disco, mesmo que Rodrigo, também guitarrista e baixista, esteja aumentando aos poucos o número de suas composições nos álbuns. As vozes de cada um também quase se opõem. Enquanto Marcelo é doce e melódico, Rodrigo é mais seco e desritmado, o que pra mim, ao longo das audições, faz de seu som estranhamente viril e sensual. Aliás, Rodrigo é um tipo um tanto estranho, e não é difícil encontrar entre o público de rock quem prefira os estranhos. Sem falar que é Rodrigo o responsável pela pegada roqueira que existe nos Los Hermanos.

É isso: Rodrigo é o que há de rock nos Los Hermanos, mesmo quando canta doçuras amargas como “... que alguma coisa a gente tem que amar, mas o quê eu não sei mais”, trecho de Condicional, música que adoro, embora preferindo outras, não compostas pelo Rodrigo, como Cara Estranho, um hino nerd, outra faceta da banda.

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