domingo, 30 de março de 2008

NICK NAME

 
Quando eu vi uma matéria sobre ele num fanzine, fiquei fascinado. Era uma descoberta. Um cara super sexy, totalmente assumido, metido a punk, cantando coisas pra lá de provocativas. Não via a hora de conseguir as músicas do cara. Consegui menos de cinco e continuei fascinado. O punk não era lá muito bom, mas as letras e a proposta continuavam atraentes. Nick Name parecia um ator pornô, se comportava como tal, usava seu corpo e sua aparência para se promover. Vivia ilustrando páginas de revistas gays com fotos sensuais e uma propaganda que o revelava como um acontecimento inédito no mundo da música. Finalmente um roqueiro gostoso... gay.

 
Ele é americano, daquele país onde homossexuais, justamente na cidade onde mora, San Francisco, circulam por ruas de patins, vestindo apenas um fio-dental – o país da liberdade, da democracia, aquele papo todo. De uma família de mórmons, começou a carreira como um cantor country chamado Kent James, fez algumas participações em filmes erótico-trash, como os da série “Emmanuelle”, mas depois despirocou e decidiu ser “queercore”, tipo de hardcore com letras gays (queer = viado, assim, com “i” mesmo). Como Nick Name, juntou-se a uma banda chamada The Normals, que leva esse nome porque seus integrantes são héteros, e lançou dois álbuns, Nick Name (2001) e Pow! (2002), além de participar do “primeiro filme de terror gay”, Hellbent, em 2004. 

 
Também em 2004, lançou o documentário Nick Name And The Normals, sobre si mesmo e sua banda. Felizmente, consegui ter acesso ao vídeo durante uma festival de filmes gays daqui de São Paulo e pude entender um pouco mais sobre esse fenômeno curioso que representava esse cara.

Divertido, essa é a palavra mais adequada para definir o seu trabalho. Entretanto, Nick Name é cheio de excessos perigosos e comete equívocos um pouco constrangedores dentro do mundo do rock. Apesar de ele até acertar em seu discurso de que gays precisam repensar seus valores e não se preocuparem tanto em levar uma vida tão próxima do estilo heterossexual para serem aceitos, Nick se confunde quando é questionado sobre o enaltecimento de rótulos, como “gay”, e peca um pouco ao agredir heterossexuais em músicas como “Who’s your daddy?”. São agressões um tanto gratuitas, fortes demais, porque não parecem fazer distinção entre um hétero qualquer e um preconceituoso. Nick parece apenas promover uma guerra dentro da diversidade sexual, guerra um pouco parecida como a que certos negros, cansados de apanhar, fazem contra os brancos. Além disso, Nick reforça estereótipos como o do “gay de academia” ao dizer explicitamente que agora os homossexuais são fisicamente fortes e não temem mais os outros caras. Confesso que me senti envergonhado no cinema.

 
No mesmo documentário, o fracasso da sua carreira é explícito. Apesar de promovido numa parada gay, pouquíssimas pessoas ficaram presentes para assistir ao seu show. E no final, Nick encontra um casinho e deixa a entender que desistirá do rock. Uma pena, com certeza, porque canções como “I fucked your boyfriend” são achados e mereciam mais divulgação e uma continuidade. Nick Name não deveria ter parado. Mas o cara é meio perdido, não sabe direito que rumo toma. Depois desse ano, ele voltou a ser Kent James e a fazer umas músicas bem chatinhas. Já nos últimos meses, lançou Decade Of Dirt, coletânea dos dois lados da sua música, a country e a queer.

 
Agora... apesar de eu ter criticado sua postura preconceituosa com relação a héteros, é óbvio que há momentos em que penso que esse “contra-ataque” precisa existir. A raiva dos gays precisa ser extravasada, não dá para impedir que alguém tão machucado na vida não possa ao menos no discurso querer que seus algozes sofram também. Penso isso sempre que me deparo com atitudes tão imbecis como as de umas pessoas que vêm a este blog me xingar por causa do texto sobre Phil Anselmo. Eu realmente peguei pesado com o Phil, mas não consigo entender que as pessoas não entendam que é possível gostar mesmo enxergando defeitos. Há uns caras aí que pagam um pau tão grande pro ex-vocalista do Pantera que me assusto com tanta devoção. E sua agressividade comigo, é claro, sempre tem um apelo sexual. Não retiro nada do que eu disse sobre Phil. Qualquer entrevista com ele flagra sua personalidade pequena, de um machinho briguento que não faz nada na vida além de tentar aumentar sua auto-estima com estupidez e tacanhice. O próprio Phil tem percebido algumas de suas tolices. Porque ele é um tolo, todo machinho é um tolo, assim como cada um que tenta me agredir aqui. E contra toda essa tolice só mesmo uma violência e uma aversão como a que Nick Name tentou promover. Há problemas que só a porrada ou uma bala resolve. Porque a mediocridade não tem cura.

domingo, 2 de março de 2008

RODRIGO AMARANTE

Alguma coisa acontece que as principais bandas de rock do Brasil não são necessariamente de rock. Isso desde lá dos tempos antigos, onde bandas com elementos roqueiros inquestionáveis acrescentavam ao seu som instrumentos e parafernálias incomuns ao rock. Tornavam-se então fenômenos também da MPB – também ou principalmente. Com os Los Hermanos é assim. 

Surgiram com o primeiro álbum, homônimo, lá pelo ano de 99, e se diziam hardcore. Fizeram um baita sucesso com uma música pop chamada Anna Júlia, tanto sucesso que a banda se sentiu incomodada, vai saber se pelo apelo midiático natural nesses casos, ferindo uma suposta personalidade introspectiva e “underground” dos rapazes, ou pela ridicularização da música e da banda por quem entendia de hardcore. Depois disso, lançam em 2001 o Bloco do Eu Sozinho, disco bem afastado do estilo do primeiro e começam a rolar boatos de que a banda renegaria Anna Júlia. Com o segundo álbum, Los Hermanos perde em popularidade e ganha em conceito, passa a ser mais respeitada e admirada por críticos, bichos-grilo e gente graúda da música brasileira.

Hoje o Los Hermanos tem quatro discos, o mais famoso é o Ventura, de 2003, entrou num recesso por tempo indeterminado e segura a onda de ser uma das bandas mais importantes do cenário atual, justamente por sua proposta de mesclar vários estilos musicais, como a bossa nova, o samba e o rock, continuando como uma banda jovem, e por sua carreira irregular, em que cada álbum parece um passo rumo a um destino pouco claro. Há quem os considere intelectualizados demais, ou mesmo chatos e herméticos, porém suas composições têm sido regravadas por diversos artistas e há quem diga, os mais extasiados, claro, que Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, chefes da banda, sejam os novos Chico Buarque e Caetano Veloso.

Deslumbres à parte, eu mesmo acho as canções dos Los Hermanos entre as coisas mais sensíveis e bonitas que tem se visto nos últimos anos. E Marcelo e Rodrigo donos de poesias tão diferentes que é incrível que se complementem tão harmonicamente num único disco, mesmo que Rodrigo, também guitarrista e baixista, esteja aumentando aos poucos o número de suas composições nos álbuns. As vozes de cada um também quase se opõem. Enquanto Marcelo é doce e melódico, Rodrigo é mais seco e desritmado, o que pra mim, ao longo das audições, faz de seu som estranhamente viril e sensual. Aliás, Rodrigo é um tipo um tanto estranho, e não é difícil encontrar entre o público de rock quem prefira os estranhos. Sem falar que é Rodrigo o responsável pela pegada roqueira que existe nos Los Hermanos.

É isso: Rodrigo é o que há de rock nos Los Hermanos, mesmo quando canta doçuras amargas como “... que alguma coisa a gente tem que amar, mas o quê eu não sei mais”, trecho de Condicional, música que adoro, embora preferindo outras, não compostas pelo Rodrigo, como Cara Estranho, um hino nerd, outra faceta da banda.

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