domingo, 27 de julho de 2008

MARTY LEOPARD

Curioso como de repente se pode descobrir uma banda e gostar muito dela. Não sei bem se já tinha ouvido falar da americana Gay For Johnny Depp, mas cruzei com a banda pela Internet, fiquei curioso, fui fuçar e gostei. Gostei bastante até. Do som, da proposta, da atitude, do pessoal, das letras, de tudo. Primeiro achei se tratar de uma banda gay, afinal os encontrei pesquisando sobre queercore, depois achei que era uma banda hétero fazendo gracinha, depois que “até” fosse gay, ou mista, mas fazendo alguma linha, fazendo charme. Não cheguei bem a uma conclusão.
O som se assemelha um tanto ao que há de mais pesado e inaudível dentro da cena “alguma-coisa-core”, mas já foram considerados até como metal. Fazem geralmente aquele som berrado, urrado, o que em inglês às vezes é chamado de “screamo”. As letras abordam temas político-sociais, algumas vezes com algum escracho e sexualização, além de tirar ainda um sarro do estilo Gore, um subgênero do terror, mais “extremista” e, por vezes, mal feito. Quase (ou totalmente) trash. É assim no clipe de Shh, Put The Shiv To My Throat, disponível no youtube.

O destaque da banda, entretanto, são as letras que fazem explícita referência ao ator Johnny Depp, galã “cult” de Hollywood. Não são todas, mas a parte gay se resume a isso, a uma obsessão pelo ator, assumidamente único homem que faria os caras da banda terem uma relação homossexual. São letras como Kill The Cool Kids, em que cantam “And I want Johnny to suck my dick [...] Fucked him in the ass, ‘cause I want my Johnny bleeding”. Outra divertida é At Least Be a Target, que coloco inteira: 

“Fucked you for pleasure, Fucked you for pain, Fucked you in ways that i just can't explain, Made you my savior, Made you my slave, Now all i want to do is fuck you again, Take your clothes off, Get on my bed, Don't want to fuck you, Be a threat instead, Be my target, Be my target tonight, Tonight, tonight, You beg and beg, For more, Just lay there, lay there, Lay there, Lay there / Fucked you for pleasure, Fucked you for pain, Fucked you in ways that i just can't explain, Made you my savior, Made you my slave, Now all i want to do is fuck you again, And again, and again, And again, and again, And again... / But tell me honey, Tell me Johnny, What are we going to do about this? / And you blow me now, you bitch!”. 

Acontece que a bichice acaba aí. Quando os caras vão mostrar algum toque físico num vídeo, usam uma mulher, como no clipe que já mencionei. E nunca se definiram como gays, até falam em namoradas e tal. Porém não parecem ser escrotos, dão declarações até bacaninhas e divertidas, falam da liberdade de expressão e contra a caricata macheza presente também no hardcore, dizem que a banda surge como uma maneira de mandar certos tipos de bandas se foderem. Até brincam que, dependendo do cara, do quão sexy ele for, e de quanto tiverem bebido, eles até virariam gays, mesmo que ele não seja o Johnny Depp. 

Também criticam o movimento “straight-edge”, contra qualquer tipo de drogas e, em alguns casos, o sexo casual. Perguntam “o que há de errado com o sexo e, sinceramente, com as drogas?”

A propósito, antes que eu me esqueça, a banda tem dois EPs — Erotically Charged Dance Songs for the Desperate, de 2004, e Blood: The Natural Lubricant, de 2005. O primeiro e único álbum até então, The Politics of Cruelty, é de 2007.

Marty Leopard é o vocalista, que eu achei charmosinho logo de cara, quando vi o clipe. Ele fica lindo de óculos escuros e é irresistível ouvi-lo cantar que quer foder o Johnny Depp, e mandando o ator chupar o seu pau. Mesmo que seja só zueira, vale aquela punheta. Marty, ou Arthur Shepherd, seu nome real, tem uma carreira musical extensa, e também como guitarrista. Começou com a banda Mind Over Matter, que teria “acidentalmente” inventado o screamo, depois participou e participa de bandas como Instruction, Errortype: eleven, e God Fires Man, além de alguns outros trabalhos – Marty já foi até backing vocal dos Misfits no álbum Famous Monsters, de 99.

Pra finalizar, depois de conhecer tudo isso sobre a Gay For Johnny Depp, me pergunto o que realmente define um estilo. Sempre entendi o queercore como uma afronta, logo uma vertente da cultura (sim, porque o conceito já ultrapassa o rock e a própria música) bastante politizada e, por isso mesmo, como é de costume, feita pelos principais interessados. 

Só que a banda de Marty é associada ao queercore, embora seus integrantes não sejam assumidamente gays e a temática de suas músicas gire apenas em torno de um aparente deboche a uma “celebridade”. Isso se encaixa no que é queercore? Principalmente: uma banda ht pode ser queercore? 

sexta-feira, 11 de julho de 2008

ALAN FERES

“Há quem diga por aí que o Rock and Roll morreu, a esses eu grito no ouvido: você ainda não me conheceu!”. Essa é uma das frases de Filho do Rock and Roll, uma das canções do primeiro álbum do Rock Rocket – Por Um Rock and Roll Mais Alcoólatra E Inconseqüente –, banda paulista de rock garagem. A frase está certa e tem um sentido tão específico quanto abrangente. Poderia falar do Rock do mundo, dizer que ainda há quem faça um bom (e velho, quem sabe) rock, mas prefiro falar sobre o rock brasileiro e como uma banda independente pode destoar, em qualidade e atitude, de uma banda comercial. É lugar-comum ouvir que o rock nacional não existe, mas quem diz isso não conhece boa parte da nossa cena independente.

É curioso admitir certas coisas, mas é fato que bandas independentes, por alguma liberdade que têm, conseguem fazer um som bem mais legítimo que as outras com patrão. As bandas nacionais do rock, principalmente as do rock oitentista, até outro dia maior símbolo do nosso rock, sempre se mostraram um tanto toscas e pop no som. Apresentaram bons letristas, talvez artistas sinceros, mas nunca bons músicos de verdade. Temos alguns clássicos, claro, mas todos frágeis, consagrados mais pelo apelo popular que por méritos “técnicos”, digamos assim.

Também não vou generalizar e dizer que bandas independentes são sempre a melhor coisa do mundo. Falta de recursos tem um grande peso na qualidade do som muitas vezes e não é raro ver que certas bandas têm muita boa vontade, e só. Não é o que acontece, no entanto, com o Rock Rocket (embora pareça que já estejam com gravadora, mas a Trama, que parece ainda ter alguma dignidade). A grande parte do seu som é realmente boa, é rock puro, liberto de pasteurizações, e as temáticas todas atrevidas, e divertidas. Tanto a faixa título do primeiro álbum, quanto Quem depilou meu rabo, Puro amor em alto mar, ainda do primeiro, e Os Legais, Ninfomaníaca, Pé na bunda, Eu queria me casar, do segundo e recente disco (homônimo à banda), entre várias, são sons muito bons, clássicos desse nosso novo e velho rock brazuca.

Os caras do Rock Rocket se mostram quase sempre como cafajestes, bêbados, vigaristas, fazem um som quase despretensioso e muito, muito jovem, um rock moleque. Falam de cerveja, butecos, sexo, música e algum pé na bunda. Tornam-se sexies, como todo cafajeste.

Alan Feres é o baterista e talvez o mais tímido da banda. O mais sujinho também, barbudo e tal, talvez o que acabou me chamando a atenção. Mas nenhum deles é feio, são um trio (com Noel na guitarra e vocal e Pesky no baixo) bem gostosinho até. Também parecem ser uns caras legais, simples e sem preconceitos, mesmo imersos num universo relativamente machista e escroto. Eu tive a curiosa experiência de conversar com o Alan pessoalmente, numa entrevista pro finado GrindZine, publicação simpatizante de rock e cultura em geral, e o moço deu declarações bem interessantes. Disse que não tinha medo de a banda ser vinculada a gays por estarem num fanzine desse público, porque era apenas uma banda de rock falando sobre rock pra quem curte rock. Também afirmou não querer que seu público seja machista ou homofóbico, apesar de algumas temáticas de suas músicas, e indagado sobre o que achava sobre o fato de alguns gays curtirem o seu som, foi bem simples: “Não vejo muita diferença entre gays e héteros. É só gente que gosta de rock. O rock é que atrai”.

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