domingo, 6 de setembro de 2009

HENRY ROLLINS

Se um dia eu fizer uma lista dos dez rockstars mais fodas do Caralho, creio que Henry será um sério candidato. Primeiro, porque fez parte de uma das bandas punks mais importantes dos anos 70 e 80, o Black Flag, segundo porque é um dos raros roqueiros de versatilidade musical positiva, e terceiro por ser uma das personalidades mais excêntricas da sua cena. Tem ainda os seus atributos físicos, ainda hoje, aos quase 50 anos.

Ele é aquariano e se chama Garfield – Henry Lawrence Garfield –, nasceu em Washington e, por ser um menino mau, foi jogado pela família na The Bullis [bullying?] School, paraíso disciplinador de pestes. Lá começou a escrever, e suas primeiras estórias eram sobre como explodir a escola e matar os professores. Tempos depois, formou uma banda punk.

State of Alert foi sua primeira banda, durou pouquinho e lançou apenas um EP, No Policy, em 81. Neste mesmo ano, integrou a Black Flag, substituindo o vocalista, que queria se tornar guitarrista. A Black Flag surgiu em 76, e foi um dos primeiros grupos punk a flertar com outros estilos, como o Metal e o Jazz. Aliás, Henry foi responsável por parte significativa dessa versatilidade, introduzindo à banda inclusive o “go-go”, batida sincopada do funk criada por Chuck Brown, o que causou hostilidade de alguns fãs, que também não curtiam muito o jeito de Rollins nos palcos.

Em 86, o sonho punk acabou e o nosso rocker daddy formou a Rollins Band logo depois, em 87, cuja trajetória se esticou até 2006. Essa banda já era uma mistura de estilos, bem ao jeito de Henry, e não raro é definida apenas como “rock alternativo”. O primeiro disco de estúdio é Life Time, de 87, e o último é Rise Above: 24 Black Fag songs to benefit the West Memphis Three, de 2002, com a participação de vários outros vocalistas. Duas de suas músicas muito populares são Liar e Low Self Opinion:




Além da música, Henry se destaca por ser um artista multimída, atuando em programas de rádio, tv (ele até participou do trash Jackass), e vários filmes. Entretanto, destaco seu trabalho com audiolivros, o moço tem vários e até excursiona por aí apenas para “falar” para o público. É um misto de poesia, crônicas faladas, pensamentos soltos e ativismo político.

Henry é bastante ativista, diga-se de passagem. Mas, para além das críticas aos problemas que os EUA sempre tiveram, é muito famoso seu trabalho a favor dos direitos dos homossexuais. Henry bate tanto nessa tecla que, claro, sua sexualidade já foi questionada. O poeta punk da palavra falada afirma sua heterossexualidade enfaticamente, e penso que mundo é esse em que se é simplesmente impossível que um homem hétero lute pelos direitos dos gays. Não vou negar que se trata de um fato insólito, afinal quando a arte aborda a homossexualidade de uma maneira que não seja jocosa ou preconceituosa, é muito provável que o artista seja gay. Existe uma limitação grande para que homens hétero manifestem tanto desprendimento, o que é bem triste. E o preconceito vem de todos os lados, muitas bichinhas desconfiariam dele. Até hoje, se não muito me engano, apenas mulheres hétero falam a favor dos gays, até para serem alçadas ao patamar de diva, e conquistarem um prestígio que só a estética homo pode dar. Madonna, Cher, Kylie Minogue e até a nossa Elke Maravilha que o diga. Mesmo os artistas homossexuais são mais cautelosos e morrem de medo do “levantar bandeiras”. No Brasil então, nem se fala.

Henry é um homem corajoso, e, embora eu não saiba nada de sua vida pessoal, se já teve namoradas, se é casado, ou se já transmitiu o legado de nossa miséria a alguém, gosto de acreditar que ele é sincero quando fala de si. É bom saber que ao menos um homem hétero, em toda a história da música, tenha se dignado, a despeito de qualquer coisa, a se pronunciar favoravelmente com tanta insistência e dedicação sobre um assunto que, neste nosso mundo tão imbecil e violento, pode lhe custar a tão afagada reputação.

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