sábado, 28 de novembro de 2009

DAVID SILVERIA

Não sei. Há talvez um assombro diante dos olhos de alguém que aconteça de repente... Então, essa pessoa vai embora, se cala, decide que é hora de uma grande transformação. O que acontece na mente de um artista que decide abandonar a arte? Se soubéssemos, talvez descobríssemos o quão amarga ou doce a vida realmente é.

David Silveria foi baterista exímio do Korn, uma das principais bandas de new metal que surgiram por aí. Também modelo, era a alegria e o tesão de nossos olhos, uma pausa no caos que o som da banda pretendia nos mostrar. Um instante de luz. Até que em 2006 resolveu abandonar a carreira, não por brigas com os companheiros, tampouco pra formar outra banda, virar ator, seguir como modelo, nada disso. David montou um restaurante de sushi e agora quer a vida longe dos nossos olhos, e daquela tal de indústria. Mais grave: ele vendeu ou deu embora todos os seus instrumentos musicais, não sobrou nada.

O Korn surgiu em 1993 com bastante peso no som, mas já flertando com uma cantoria falada, apontando para a febre do Nu-metal, embora, ao invés de jalecões de gangsta rappers, flertassem um tanto com a estética gótica dos anos 80 — talvez herança inevitável e imediata da década que nem tinha acabado direito. Tudo isso quase fez a banda ser levada a sério. Eles até despertaram um pouco a atenção do público queer, pois além do vocalista “levar jeito”, apareceram com o clipe de A.D.I.D.A.S (All day I dream about sex), no qual o vocal revelava uma lingerie por baixo da roupa ao fim. Além da mais do que ambígua Faggot, faixa do primeiro álbum, cuja letra insinua um garoto se sentindo discriminado, com alguma crise de identidade sexual.

Ainda havia a história alardeada do nome da banda. Korn é “milho” mal escrito, e o nome surgiu de uma conversa de amigos em que alguém contou que, ao fazer uma cunete noutra pessoa, acabou com um grão de milho na boca. Sacaram? Povo de nu-metal não faz a xuca...

Mas depois disso a banda cresceu, cresceu muito, ganhou prêmios, aparecia na MTV direto. A música começou a ficar fraquinha, meio adolescente (por que eu implico com adolescentes?), meio sem ritmo. Os caras deixaram as polemicazinhas de lado, apareciam na TV com mulher e filhos. Cunete e lingerie, pelo jeito, nunca mais. Até fizeram um desses acústicos que hoje são tão batidos. Nesta época que David saiu.

Ele costumava dizer que entendia as letras da banda, compostas pelo vocal, mas não se identificava exatamente com elas. Sua vida era feliz, não tinha do que reclamar. Então algo aconteceu, desses assombros repentinos e transformadores. David não quis largar a felicidade.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

RODRIGO CURI


Rodrigo Curi é guitarrista do MopTop, uma das bandas que mais ouço no momento. Das brasileiras da atualidade, é uma das poucas que se destacam, com sua sonoridade moderna e dançante, e suas letras de sensibilidade e perspicácia bem charmosas. Pois bem: o moço é o entrevistado da vez (sim, sim, meu caros, este blog alça voos), e fala um pouquinho sobre o trabalho e o universo da banda. Relaxem e leiam.

 
CDOROCK - No Som Brasil, da TV Globo, em homenagem ao Renato Russo, vocês foram apresentados como um banda de “indie rock”. Este não é um termo que hoje soa um tanto vago? O que seria exatamente o estilo indie rock?

RODRIGO - Aqui no Brasil o pessoal mistura tudo. Costumam chamar banda indie aquelas que tocam rock básico e não têm uma preocupação tão grande em se encaixar no padrão exigido pelas grandes mídias. Eu nunca me preocupei com esses rótulos... acho que esse tipo de coisa acaba limitando a criatividade da banda.
CDOROCK - Fãs do indie rock parecem mais voltados para bandas internacionais, enquanto fãs de rock nacional parecem não preferir o tal indie. É difícil formar público para uma banda de indie rock cantado em português?

RODRIGO - Fazer rock em português é bem mais complicado sim, mas acho que o público de “indie rock “ está mais voltado pro rock gringo por conta da oferta, que é muito maior. Isso vale pra qualquer tipo de rock.

CDOROCK - Há quem os compare aos Strokes e até aos Los Hermanos. Essas são realmente influências?

RODRIGO - São algumas. Sou fanático por Los Hermanos e muito fã de The Strokes, mas minhas maiores influências na guitarra são os caras do blues e rock clássico, como Hendrix, Page, Clapton , BB King e Nokie.

CDOROCK - Antes, vocês tinham uma banda chamada DeLux, com músicas em inglês. Por que a transição para álbuns com letras apenas em português?

RODRIGO - Não estava fazendo muito sentido fazer músicas em inglês no Brasil. Era uma tarefa mais fácil, mas a gente ficava realizado de verdade quando conseguia fazer uma coisa legal em português. Abandonamos o nome Delux porque havia muitas bandas com esse nome, e como o trabalho estava ficando sério, achamos melhor usar um que fosse só nosso.


CDOROCK - Vocês estão para lançar um EP com os antigos sucessos em inglês, não é isso? Qual a previsão de lançamento e por que retomar esse caminho? Alguma ambição de carreira internacional?

RODRIGO - Existem planos pra brincar lá fora sim. Já rolaram alguns convites, e a gente tá pensando em aceitar... Esse EP promete muita briga dentro da banda. Escolher as músicas vai ser o mais complicado, pois temos material pra fazer uns 3 discos em inglês...


CDOROCK - E pro próximo álbum, já tem alguma coisa pronta?

RODRIGO - Nada. Só alguns riffs, e alguns rascunhos.

CDOROCK - Como é seu processo de composição, a partir das letras, ou há letras que também são criadas para os seus riffs?

RODRIGO - O principal compositor do Moptop é o Gabriel. Geralmente ele chega com um rascunho, e a banda vai lapidando até ficar ok. Letra é sempre um parto. Geralmente as músicas nascem em inglês “embromation” e nos 45 do segundo tempo ganham uma letra em português.

CDOROCK - Parece-me que o rock jovem a fazer mais sucesso hoje é o Emo, liderado musical e esteticamente por bandas como a Fresno. Seria a Moptop uma banda mais adulta, de pouco apelo adolescente?

RODRIGO - Não sei se o rock tem que ser adulto... Isso foi um elogio, né? Só faço o que gostaria de escutar por aí...

CDOROCK - Com a cada vez maior visibilidade da banda, como ficará a questão do download gratuito das músicas?

RODRIGO - Nosso contrato com a Universal Music não permite esse tipo de distribuição, mas é difícil brigar com a Internet. Sempre vai ter alguém, na melhor das intenções querendo espalhar seu som por aí.


CDOROCK - No primeiro post do seu blog sobre as guitarras que usa na banda, você citava “a única que ainda não havia mexido”. É um aficionado por guitarras? Há muitas no seu acervo? Alguma raridade?

RODRIGO - Quem olha o blog acha que eu tenho um monte de guitarras caras, mas não é verdade... eu gosto de garimpar instrumentos baratos e com potencial, reformar e fazer alguns shows... depois perde a graça e eu passo pra frente. Raridade mesmo só uma Univox Hi Flier de 76.

CDOROCK - Você é artista gráfico, e inclusive é seu o logotipo da Moptop. Faz muitos trabalhos ainda nessa área ou a banda já ocupa todo o seu tempo e paga todas as suas contas?

RODRIGO - Faço sim. Sou formado em desenho industrial, adoro a profissão e ela paga grande parte das minhas contas sim. Não largo nem nas épocas mais movimentadas da banda.

CDOROCK - Embora o blog O Caralho do Rock tenha leitoras mulheres, as bandas ou artistas são sempre abordados sob algum viés gay. É esquisito para você ou para a banda falar especificamente para esse público?

RODRIGO - Não. Pra mim não faz diferença.

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