terça-feira, 16 de outubro de 2012

FLEA

À época da lista dos 50+ gostosos do Rock, um dos nomes causou mais estranheza que os demais, principalmente aos mais acostumados e defensores de um padrão bem específico (e higienista, por que não?) de beleza: o de Michael Peter Balzary, o esquisito cofundador dos Red Hot Chili Peppers.

Esquisito. Anti. Já por seu apelido: pulga, o inseto minúsculo de que ninguém gosta, aparentemente inútil para a natureza, que só incomoda. Todos riem com ele, até o elegem o segundo melhor baixista da história, mas poucos, ou quase ninguém, o enxergariam com grandes atributos daquilo que ele é, antes de ser qualquer coisa a mais que seja: um homem.

Não é difícil: basta perceber o rosto de moleque travesso, ainda hoje em seu aniversário de cinquenta anos. Flea lembra os tais no colégio que só aprontavam, inquietos, que venciam pelo cansaço e pelo sorriso, que nunca eram apontados como os galãs e pegadores, mas ainda populares, simpáticos, cuja safadezazinha no olhar poderia deixar os colegas molhadinhos.

Começou a carreira vestindo apenas uma meia, e no pau. Hoje, nem isso. Para quê? Se sua nudez sempre foi mais engraçada que sensual, ofuscada inclusive pela nudez do inconteste galã e grande amigo e alma gêmea musical, Anthony Kiedis. Se sua nudez foi totalmente camuflada pelo baixo e os acordes. Quantos peladões conseguiram ser mais artistas que peladões?

O RHCP todos conhecem, besteira apresentar. Tiveram seu som eternamente moleque reconhecido pelo emblemático Hall da Fama do Rock em abril deste ano, numa cerimônia que rememorou todos os integrantes que passaram pela banda, mas, sobretudo, o laço entre Flea e Kiedis. 

O que poucos podem lembrar seja talvez suas raras incursões pelos vocais. No Red Hot, a mais curiosa é na música Pea, do álbum One Hot Minute, de 1995, na qual Flea canta sua “pequenez” contra um algoz homofóbico.

Transcending, do mesmo álbum, também vale a pena ser notada, já que, embora cantada por Kiedis, foi composta por Flea em homenagem ao ator River Phoenix, amigo que conheceu durante as filmagens de My Own Private Idaho, longa sobre dois garotos de programa em que fez uma ponta.


“Quando eu penso em River eu não penso sobre sua morte. Não fico triste por isso. Eu penso sobre como inacreditavelmente sortudo fui em ser amigo de uma pessoa que olhava pra dentro de mim e enxergava coisas que ninguém antes enxergou. E essa canção é respeitosamente uma canção de amor para ele.”

Flea também lançou um projeto solo este ano chamado Helen Burns, com participação de Patti Smith na faixa-título. O lucro com o álbum (vendido digitalmente no esquema “pague quanto quiser”) será revertido para o seu Silverlake Conservatory Of Music, organização de educação musical sem fins lucrativos.

Sim, é justo considerar Flea um dos mais importantes músicos de sua geração, um dos melhores baixistas, um grande cara, mas justo também é perceber sua personalidade louca e sexy e sua beleza tão óbvia quanto obscura. Flea deve estar na lista dos mais gostosos, sim. Ele só é feio pra quem não gosta de rock. E esses não interessam.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

RYAN CLARK


"Quando começamos oficialmente, queríamos ser muito claros quanto a isso. Não víamos qualquer propósito em rodeios".

"Não queremos andar em cima do limite entre uma banda cristã e uma não cristã."

Na prática, são mais uma banda de metalcore, aquele estilo mais reconhecido por mesclar vocais guturais e melódicos, sobre um som realmente pesado. Numa primeira audição, se você tem menos de 25 anos, pode curtir o tal som e passar batido pelo resto, se perceber que existe um resto. Se tem mais, pode curtir o peso do som e de parte dos vocais, pode ainda curtir a outra parte melódica, mas provavelmente vai torcer o nariz quando as duas partes se mesclarem demais, com muita frequencia. Porque até funciona separado, mas junto não, ainda mais pra quem não é jovem o suficiente pra curtir esse "novo metal", bem popular entre a garotada norte-americana.

O que vai pegar, porém, mas só depois, são as letras. Primeiro você pode nem estranhar, afinal uma banda de rock pesado chamada "Caçador de demônios", cujas letras parecem falar mais sobre achar o caminho certo nessa luta sangrenta e conflituosa que é a vida, é algo normal, corriqueiro. Você vai lembrar de tantas outras bandas, algumas góticas, outras "viking", outras sei lá mais o quê, com letras muito parecidas. Mas, de repente, você pode se iluminar e ligar os pontinhos, para então dar um pause: "Será que...?"

Sim. É. A Demon Hunter é uma banda "gospel". Ou, como eles preferem, "cristã". E, como bem afirmam em entrevistas, até cogitaram não ultrapassar os limites que cerceiam o rótulo do não rótulo, mas perceberam que não haveria motivos para isso, porque, se eles eram caras cristãos, não tinham porque negar que a banda também era.

Começaram em 2000, são de Seattle, e já têm seis álbuns de estúdio. O mais recente é True Defiance, deste ano. A banda foi fundada por Ryan Clark e seu irmão, Don, mas apenas Ryan continua, fazendo tanto os vocais melódicos quanto guturais, e também na guitarra. Com sua aparência de urso mau, assusta um pouco os bons moços dos meios que costuma frequentar. Mas o susto logo passa, porque Ryan não tarda a se mostrar um legítimo "temente a deus".

A se mostrar ou a se explicar. Porque, embora afirmem que são cristãos e perambulem entre as bandas gospel, não é tão claro assim na música sua ideologia (ou proposta, como queiram). A partir do momento em que você sabe que as letras são releituras bíblicas ou inspiradas em conceitos religiosos de bem e mal, luz e escuridão, tudo fica límpido como água, mas se ninguém, nem eles, colocar os pingos nos "i", tudo continuará turvo como vinho.

Ryan é lindo. O que causa uma certa tristeza, por saber de suas convicções de vida. Tristeza porque sabemos, nós, público-alvo deste espaço, o rumo que o cristianismo sempre toma. A violência, a avareza, os preconceitos de classe, credo, gênero e sexualidade. Tristeza porque rock é libertação, o contrário de tudo que a religião patriarcal representa. Tristeza ainda porque sabemos, sem hipocrisia, que Ryan só assume o que muitos outros metaleiros omitem, para não segmentarem demais o público.

Fiquemos com o talento de Ryan, e sua beleza. Na fé e esperança de que ele conduza sua carreira na direção ainda inédita aos cristãos: o amor ao próximo.

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