domingo, 8 de junho de 2014

JON GINOLI

Pansy Division é uma das bandas mais populares de hardcore gay que já surgiram nos EUA nas últimas décadas e um nome que faltava por aqui. São de São Francisco, surgiram no início dos anos 90 para preencher uma lacuna que percebiam haver no rock. Lançaram álbuns com letras provocativas, explícitas e singles com capas para lá de ousadas. A musicalidade melódica já lhes permitiu abrir shows para Green Day, Rancid e Foo Fighters. Jon Ginoli, vocalista e fundador da banda, é o nosso ilustre caralhíssimo e entrevistado da vez.

CDOROCK - Quem é o público do Pansy Division?

JON - Um mixto de gays e héteros, a maioria acima dos 30 anos. Alguns mais jovens sabem quem somos, mas não muitos. Nós tivemos toneladas de fãs adolescentes (a maioria hétero) depois que excursionamos com o Green Day. Eles eram héteros na maioria, mas depois o público que continuou conosco é mais gay.

CDOROCK - Como surgiu a necessidade de ter uma banda de rock gay?

JON - Quando começamos a banda em 1991, nós descobrimos que havia muitos músicos gays no rock, mas quase nenhum assumido. Havia alguns assumidos que faziam dance music e havia uma cena lésbica no folk, mas não no rock & roll. Rock & roll era a maior coisa na música americana, é o que crescemos amando, então por que pessoas gays não gostavam disso e não queriam tocar? Nós pensamos que se ninguém estava se assumindo, muito menos cantando a respeito, nós teríamos todo o espaço para nós mesmos.

CDOROCK - Vocês chegaram próximos do mainstream à época em que abriam shows para o Greenday e Rancid. Como percebiam a reação do público às letras de vocês?

JON - A reação era bem diversa. Algumas noites, a multidão era mais amigável que em outras. Observando o público durante uma de nossas apresentações, pudemos ver que as pessoas realmente nos curtiam, e em outras nos odiavam. Era o que esperávamos. Sentíamos que era importante ter certeza de que aquele público predominantemente jovem ouviu nossa mensagem, sem censura.
 
CDOROCK - É preciso mais humor ou mais protesto no ativismo gay? Ou as duas coisas podem caminhar juntas? 

JON - Ambos são necessários e úteis. Eles reforçam e apoiam um ao outro. Há mais de uma maneira e abordagem de alcançar pessoas.

CDOROCK - Um discurso comum às bandas de queercore é mostrar que nem todos os gays compram a ideia das Divas. Afinal, elas mais ajudam ou atrapalham a comunidade gay?

JON - Acho que é uma boa ideia bagunçar com a noção de gênero das pessoas. No seu melhor, a drag pode ser uma paródia dos estereótipos. Algumas vezes são mulheres fortes. Outras, infelizmente, cai nos estereótipos tradicionais. Eu não sou muito afeiçoado à música das divas, isto não é interessante para mim.

CDOROCK - Se pudesse escolher uma canção de seu repertório que melhor representasse o queercore, qual seria?

JON - É difícil escolher apenas uma. “Fem in a black leather jacket” seria uma porque vai contra o culto à masculinidade presente na sociedade em geral, mas também na cena gay. “Bunnies” seria outra porque é honesta sobre sexo (e sexo gay). Mais, canções que parecem tratar de amor quando na verdade falam de sexo, como “Luv luv luv”.

CDOROCK - A cena queercore se enfraqueceu na última década? Há novas bandas?

JON - É muito fácil ser assumido agora nos EUA de maneira geral, inclusive como um músico ou uma outra figura pública. Então não é mais tão urgente fazer disso uma bandeira. Por conta disso, acho que não há uma cena queercore visível. Penso que há bandas por aí que caberiam nessa descrição, mas muitas são de cenas locais e podem não ser algo que vocês teriam ouvido a respeito.

CDOROCK - Quais eram as inspirações do Pansy Division, no som e na atitude?
 
JON - Nós fomos inspirados pelo punk e indie rock, por pequenos grupos políticos como o ACT UP (Aids Coalition to Unleash Power), com o qual estive envolvido, e pela música que crescemos ouvindo. Kinks, Ramones, Rolling Stones, Beatles, Buzzcocks, Cramps, Clash, Sex Pistols, The Byrds etc. Pelo pop pegajoso e dançante, com letras sérias, mas divertidas. Uma música e abordagem que fosse corajosa e direta, nada pretensioso e chato.

CDOROCK - Existem projetos de novos álbums da banda?

JON - Não gravamos nada desde 2008, mas estamos conversando sobre gravar novamente num futuro próximo. Todos nós vivemos em diferentes cidades agora, distantes um dos outros, o que demanda tempo e planejamento para fazer essas coisas.

CDOROCK - Nosso blog fala muito sobre roqueiros bonitos. Quem acha o cara mais gostoso do rock?

JON - Eu tive uma queda por Dave Grohl por mais de 20 anos! Eu o encontrei uma vez – nós abrimos o show do Foo Fighters em 1996 – e não confessei meu desejo por ele... Eu também sempre achei Dean Wareham, do Galaxie 500 e do Luna, um gostoso. Eu tenho outros favoritos, mas são de bandas locais e mais obscuras. Eu tendo a gostar de roqueiros magros, sem pelos e de cabelos compridos. Eu costumava ser um! Eu não gosto do visual macho. Acontece que não há muitos caras gays com esses gostos.

CDOROCK - Que canção sua você dedicaria a Dave Grohl então?

JON - Provavelmente “Bunnies”! É uma canção do tipo “Let's do it” (“vamos fazer”, ou o nosso conhecido “partir pra real”).

Jon, dando um autógrafo para um fã.

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