sexta-feira, 27 de maio de 2016

THEO OLIVEIRA

Menino do Rio, Theo realmente provoca arrepios. Não só pela beleza, mas pela voz, que se encaixa tão bem à paisagem carioca, e também pela música, que transita por vários estilos, aspirando liberdade, seja pela banda de rock alternativo Ponto Vênus ou em trabalho solo, mais voltado à MPB. Liberdade que também buscou ao começar sua transição de gênero assim que possível e romper com as amarras que o limitavam. 

Theo agora enfeita nossa página para um bate-papo. Conheça um pouco mais desse grande homem que só está começando a conquistar nosso coração, com um EP solo de estreia recém-lançado.

CDOROCK - Como começou a sua relação com a música?

THEO - Olha, quando criança eu adorava ficar vendo meu tio tocar violão. Achava aquilo o máximo. Lembro que meu pai também tocava, apesar de ter tido pouco contato com ele na infância. Mas o que me fez mesmo querer viver de música foi um boom que tive ao assistir a um clipe do Nirvana (mais especificamente Smells Like Teen Spirit, apesar do clichê). Quando bati os olhos naquele cara gritando com uma guitarra puto da vida foi tipo: WOW, EU QUERO FAZER EXATAMENTE ISSO! Comecei a aprender canto e teclado aos 13, mas eu era tão tímido (e não existia apoio nisso) que desisti. Voltei a tentar violão aos 14/15 anos e não durmo sem ele (risos).

CDOROCK - O que mais curte tocar e o que podemos esperar do seu som?

THEO - Eu gosto de misturar... faço uma batida de bossa em escala de blues, punk com reggae etc. Prefiro pedir para que não esperem nada, nem eu sei bem o que esperar quando começo a compor! Dependo muito da fase em que me encontro, do famoso estado de espírito. 

CDOROCK - Você acabou de lançar seu primeiro EP, No Mar. Pode contar um pouco sobre esse trabalho?

THEO - Ele é o início de algo que venho pensando tem muito tempo. Eu sou um cara muito ligado à natureza, essas coisas de elementares e tudo o mais. Sempre tive vontade de dedicar parte da minha arte a ela. Comecei pela água. "No Mar" mostra um lado meu que nem eu conhecia, coisas bem leves e alguns pontos bem particulares. Estar no mar me acalma, mergulhar me refresca. Eu diria que é o resultado de algumas questões complicadas (e bem pessoais) que fui aprendendo a digerir. Sabe quando você se sente completamente perdido e só no mundo? Em algumas músicas eu tentei compor exatamente o que gostaria de ouvir quando me sentia assim. O EP começa com uma música que chamei de "A Mais Bonita" cujo refrão insiste em te dizer que a única certeza que temos é que o fim é certo, então pra que toda essa coisa, né? Vamos cantar com a vida! 


CDOROCK - Você fala nas suas redes que do reggae pode migrar ao blues. Pretende mesmo transitar entre diferentes estilos?

THEO - Então... confesso que não pretendo "regar" (ok, péssima piadinha) nenhum EP ou CD futuro. Meu grande lema em relação à música é ser livre. 

CDOROCK - Quais suas inspirações para escrever e compor?

THEO - Olha, tudo. Eu amo poesia, amo brincar com versos subliminares e ambiguidade. Eu já passei por muita coisa na vida, apesar de ser bem jovem. Amores perdidos, solidão, depressão, embriaguez, amizades mirabolantes, revolta com política e enfim... muita história pra contar. 

CDOROCK - Tem alguma canção que nos destacaria de seu EP?

THEO - Eu gosto de "Rosa" e "Bossa". 

CDOROCK - O Rio é conhecido por ser uma cidade bem despojada. Tem sido tranquilo apresentar-se como um homem trans em público, dentro e fora do palco?

THEO - É curioso que ser trans tem me aberto algumas portas, apesar de que eu ainda não consegui espaço em palco para me apresentar solo, parece um mundo bem fechado. A cena independente tem seus clubinhos da Luluzinha, se você não participa você tem que se lançar só. Isso independe de ser trans ou cis. Depende mais da sua disposição (e dinheiro) para investir em si mesmo.

CDOROCK - Quando decidiu começar o seu processo de transição?

THEO - Assim que pude começar: aos 18.


CDOROCK - Sofreu preconceito de amigos e familiares quando assumiu sua condição?

THEO - Perdi praticamente todos os meus amigos. Meus pais me apoiaram com uma certa dificuldade no início, mas paciência!

CDOROCK - E dentro da cena gay e lésbica, ainda vê preconceito contra pessoas trans?

THEO - Ainda tem gente ignorante independente do meio, né? Fazer o quê. Eu lembro de ter sofrido muito preconceito no início da transição nessa cena. Foi bem crítico. Sempre me dei melhor com gente bi (risos).


CDOROCK - Tem acompanhado os avanços e "desavanços" acerca do uso do nome social? Que pensa sobre isso e como é essa realidade no Rio?

THEO - Sim. Isso me deixou profundamente triste esses dias. Eu consegui em 2 anos mudar meu nome na identidade, mas conheço pessoas que ainda dependem do uso de nome social. Parece que foi só um decreto, então não cancelaram nada. Mas se tem decreto, não dá pra gente ficar esperando a morte da bezerra. Aqui no RJ existiu ou ainda existe um núcleo chamado NUDIVERSIS, que foi inclusive por onde comecei o processo de retificação... o problema é a burocracia.

CDOROCK - Muitos homens trans têm se tornado símbolos sexuais, e você tem muito potencial para isso. Vê algum problema na sexualização das pessoas trans?

THEO - Eita! Que lisonjeio, hahaha! O problema não tá na sexualização nem de cis nem de trans, o problema tá em quem vê e na forma que essa pessoa pensa sobre. Eu já fiz um gogo boy (de brincadeira viu? Eu não sei dançar nada!) numa festa na Casa Nem, aqui no RJ, e adorei todo mundo me olhando. Mexer com o ego é uma delícia! Agora se uma pessoa me vê como um pedaço de carne que só serve pra sexo o problema é dela! Eu não sou só trans, sabe? Eu sou gente também. 


CDOROCK - Alguns meninos trans evitam rótulos sobre a própria sexualidade. Com você é assim ou define mais precisamente sua orientação?

THEO - Eu sou o que eu quiser ser no momento. 

CDOROCK - Aqui nO Caralho, temos muitos símbolos sexuais. Você tem os seus? Quem são?

THEO - Eu gosto de modelos andróginos... Eleonora Bosé, Andrej Pejic, até a maravilhosa Léa T (que não se enquadra nesse tipo de moda, mas...).


CDOROCK - Para terminar, como temos acesso à sua música?

THEO - Está disponível para ouvir no youtube: EP "No Mar". E também disponibilizei gratuitamente para download no soundcloud. Além do meu site: http://kaiquetheo.wix.com/kaiquetheo e página do facebook. Para minha banda, tem a página do face: https://www.facebook.com/pontovenus.

Fotos: Theo Kaique e Rodrigo Menezes

sábado, 7 de maio de 2016

BRANDAN SCHIEPPATI

Brandan é da Califórnia e um tipo moderno de rock star. Não cai bêbado ou drogado pelos cantos, pelo contrário, parece focar-se em hábitos saudáveis, tanto pela influência da cultura straight edge, da qual afirma participar, como também por ser idealizador e proprietário de uma academia de ginástica, que divulga uma proposta diferenciada de treino. Brandan é um astro do hardcore fitness (sem colocarmos aqui qualquer carga pejorativa).

Além de tatuado, forte, gostoso, estiloso, foi também integrante de várias bandas de metal e hardcore, como Eighteen Visions, Throwdown, The Mistake e Die Die My Darling, esta uma banda cover do The Misfits. Sua carreira mais significativa no entanto ficou a cargo da Bleeding Through e do projeto solo The Iron Son.

A Bleeding Through surgiu em 1999, e o primeiro álbum por uma grande gravadora foi This is Love, This is Murderous, de 2003, dos singles Love Lost in a Hailof Gunfire e On Wings of Lead. Influenciados, sobretudo no início, pelo death metal sueco, a banda lançou sete álbuns de estúdio. O útimo, The Great Fire, é de 2012.

Já a The Iron Son foi anunciada no ano passado, com o lançamento do álbum Enemy e a canção Unleash Hell. Projeto completamente independente, dentro das premissas do DIY punk.

Aos 35 anos, Brandan mantém a boa forma, não só a física, como também um nome sempre expressivo do metal e hardcore a lançar trabalhos que sempre se destacam na cena. Nossos olhos e ouvidos agradecem.

Fotos: Divulgação

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