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terça-feira, 28 de junho de 2016

J.D. SAMSON

O mundo já nasceu mudado, nós é que demoramos a dar conta. Os gêneros sempre foram fluidos, as sexualidades também. Tentamos nos aprisionar em convenções simbólicas, tivemos algumas tentativas de romper com essas convenções, muitas delas originando novas prisões, mas sempre, sempre houve, por toda a história, aqueles com a missão de nos alertar que somos mais do que dizemos ser e do que dizem que somos.

Na música, não é diferente. Só no rock já tivemos diversos exemplos de contestações de gênero e sexualidade e um dos melhores é J. D Samson, que ganhou fama como baterista da banda Le Tigre, ativista dos direitos das mulheres e da comunidade LGBT. E que agora também integra a banda MEN, desde 2007, outro projeto de ativismo e contestação.

J. D., que nasceu Jocelyn nos Estados Unidos, entrou para a Le Tigre em 2000, com a banda já formada, e sempre manteve um visual andrógino, sobretudo pelo bigode, que se tornou sua marca. Seu visual lhe rendeu muitos questionamentos sobre sua identidade de gênero, que nunca ficou clara para o público.

De fato, a questão não é simples. Como muita gente, a primeira conclusão de J. D. é de que seria lésbica e essa foi a primeira revelação que fez às pessoas, ainda aos 15 anos. Mais tarde, tentou se identificar com a comunidade transgênero, mas não sentiu que isso lhe bastava. Hoje, toma para si todos os pronomes, masculinos ou femininos.


Em entrevista ao site Gaynz, J. D. já disse: “Acho que as pessoas ficam confusas muitas vezes sobre eu me identificar como queer, lésbica, transgênero, ou se eu atendo por pronomes masculinos ou femininos. E para ser honesta, eu não me importo muito com a maneira que as pessoas pensam de mim. Mais do que qualquer coisa eu só quero que elas não se sintam frustradas pelo meu corpo ou minha existência. Eu não quero nada além de que elas se sintam confortáveis com meu ser. E espero que elas possam encontrar uma maneira de parar de tentar me classificar e me conhecerem apenas como um ser humano”.

Para as pessoas que não se rotulam, já existe o rótulo “não-binário”, que tenta definir as pessoas que não se definem pelos conceitos de masculino ou feminino. Contradições de nossa complexidade e necessidade de nos entendermos. J. D. é mais uma grande artista que veio para bagunçar a nossa cabeça e mexer com nosso coração.

E pensar que ela já se achou feio, e não sabia que seu visual poderia ser considerado sexy. É sim, sexy, e muito, querido J. D.! Tanto que você entrou para nosso rol de caralhíssimos, o que já tardava. A gente aqui até queria que você fosse uma porta para as mulheres nesta página, mas isto a gente vai continuar devendo :)

Fotos: Divulgação

domingo, 9 de agosto de 2015

SKYLAR KERGIL

ENGLISH VERSION HERE.

"Ei! Eu sou apenas o seu simpático vizinho, Skylar - queer, transgênero, artista, graduado, que adora montanhas e um bom café; e eu pensava que era moreno até minha barba me mostrar que eu era loiro um dia desses..."

Assim começa a apresentação de Skylar Kergil em seu site. Cantor, compositor, poeta, ativista da cena LGBT, que documenta no Youtube sua transição de gênero desde 2009. De Massachusetts, agora residente em Boston, Skylar é nosso primeiro homem trans entrevistado. De personalidade adorável, ele nos conta um pouco de sua história e opiniões.


CDOROCK - Como você começou a tocar e escrever música?

SKYLAR - A música entrou na minha vida quando era bem jovem, principalmente com meu pai dedilhando os mesmos quatro acordes no violão e lembrando de quando tocava em bandas de covers num passado distante. Eu rodeava aquele violão aos 11 ou 12 anos, até que o empunhei e não larguei mais. A poesia sempre foi uma força enorme em minha vida, e aprender a tocar música ajudou a me comunicar por meio de palavras de um jeito que eu nunca tinha feito antes.


CDOROCK - Você lançou um novo EP recentemente - Tell Me A Story. É o seu segundo álbum. Qual a diferença dele para o primeiro, Thank You?

SKYLAR - Uma das maiores diferenças é a maturidade dele. Thank You foi escrito ao longo de muitos anos, é uma espécie de combinação de muitas canções, variando trabalhos da época do colégio até os tempos de faculdade. Tell Me A Story foi escrito mais intencionalmente, durante um período mais curto - acho que foi uma explosão de criatividade em vez de seis anos dela. Tell Me A Story reúne alguns dos meus melhores amigos, cuja musicalidade e inspiração ajudou o EP a amadurecer para além do seu esqueleto.

CDOROCK - O estilo acústico é só uma preferência ou lhe ajuda a transmitir suas mensagens de alguma maneira?

SKYLAR - Eu prefiro tocar acústico principalmente pela capacidade de viajar com as canções. Também prefiro que minha música seja mais acessível e não precise de tecnologia ou eletricidade para existir - há algo de libertador e necessário nisso para mim.

CDOROCK - Você gostaria de explorar outros estilos no futuro?

SKYLAR - Certamente. Eu tenho curtido escrever canções de outros estilos como um desafio para mim e começo a adorar a maneira como esses elementos se fundem! Há também uma parte de mim que anseia por criar batidas. Eu só não pareço ter sorte com isso ;)

CDOROCK - Você tem influências para tocar e compor?

SKYLAR - É claro! Uma das minhas maiores influências é Elliot Smith, de quem as letras são também autobiográficas e seu estilo também permanece "lo-fi" muitas vezes. Por outro lado, Jack Johnson me inspira nos dias mais felizes.

CDOROCK - Quão autobiográficas são suas letras e poemas?

SKYLAR - Muito - Eu nunca percebi o quão bruta minha poesia era até que reli algumas coisas que escrevi alguns anos atrás. Minha escrita é simplesmente uma extensão de mim. Eu tento não pensar muito nisso para não ficar todo tímido com a vulnerabilidade disso tudo.

CDOROCK - Na música, nós não temos muitas referências de artistas queers, homossexuais ou transexuais. Mas você tem algum ídolo que ache que tenha contribuído com a visibilidade dos direitos da comunidade LGBT? Algum cantor ou banda que gostaria de citar?

SKYLAR - Eu realmente amo Lucas Silveira da The Cliks, uma banda canadense. Sua transição foi fantástica de ver e ele falou muito abertamente sobre isso e seu papel no ativismo. Mary Lambert é uma artista gay que eu também gosto muito, especialmente porque ela fala das intersecções queers, outras identidades, e música.

CDOROCK - Hoje em dia, há muitas pessoas transgênero contando suas experiências e se expondo na internet. Você, por exemplo, tem um canal no Youtube. Como essas iniciativas contribuem para ajudar outras pessoas social e politicamente?

SKYLAR - Compartilhando minha história, eu me encontrei numa comunidade, enquanto antes eu me sentia muito isolado na escola. A internet permite as pessoas transgênero a se conectarem, se sentirem empoderadas e dividir recursos. Para os aliados ou aqueles interessados em aprender mais sobre a comunidade, a vasta gama de narrativas pessoais permite uma perspectiva mais diversa do que significa ser trans - honestamente, é diferente para cada pessoa! Eu espero que essas histórias na web representem a maioria.

CDOROCK - Você vê uma possível sexualização dos homens trans atualmente na mídia? O que pensa sobre isso?

SKYLAR - Não estou tão certo como eu gostaria de que os homens trans estão desfrutando tão confortavelmente dessa visibilidade da mídia pelo modo como estão sendo retratados. No entanto, tenho notado definitivamente uma ideia de que "Trans é legal, trans é tendência!" e me preocupa que as pessoas trans possam passar da invisibilidade total nos meios de comunicação para a visibilidade reduzida a apenas um aspecto da sua humanidade - a de ser trans, e a obsessão com o corpo trans. Gosto de ver narrativas de experiências pessoais, como as de memórias ou os vlogs do Youtube, porque eu sinto que, dentro dessas mídias, as pessoas trans podem controlar a forma como sua história é contada, o que é crucial.

CDOROCK - Você percebe diferenças no modo como homens e mulheres trans lidam publicamente com sua condição e como eles são politicamente engajados?

SKYLAR - Seria difícil para eu responder a isso, já que tenho vivido apenas a minha experiência, mas eu acho que as mulheres trans que conheço experimentam os perigos de viver abertamente como "transgêneros" tanto quanto meus amigos homens trans. É impossível ignorar as taxas de violência contra mulheres trans. Isso me comove diariamente. Há uma urgência em nossas sociedades para aceitar mulheres, aceitar mulheres trans, e tratá-las com o respeito e dignidade que merecem.

CDOROCK - Para algumas pessoas "cis", a sexualidade não parece ser um grande problema, ou mesmo os rótulos sobre isso. Para algumas pessoas trans é diferente? Digo: a transexualidade, para além da questão do gênero, torna a sexualidade uma questão mais complexa?

SKYLAR - Eu não acredito que isso seja necessariamente verdade. Ser transgênero impactou minha orientação sexual apenas porque uma lésbica é uma mulher que gosta de mulheres - e eu não me identifico como uma mulher, mas o resto da sociedade sim... Então eu era lésbica? Eu quase não penso sobre isso - conhecer minha identidade foi mais importante do que colocar um rótulo nela.

CDOROCK - Pessoas trans ainda sofrem preconceito da comunidade gay e lésbica cisgênero?

SKYLAR - Com certeza! Isso pode acontecer de várias maneiras, seja pela exclusão nos espaços LGB ou sendo verbalmente assediado por outras pessoas LGB. Sinto admitir que a maioria dos meus agressores eram de dentro da comunidade LGB. Geralmente isso toma forma com comentários do tipo "Você sabe que você é apenas uma lésbica como nós - a gente sabe que você vai voltar atrás em sua transição e perceber o seu erro, você não engana ninguém" - isso entre as mulheres. Ou, por outro lado, por parte dos homens gays eu ouço "Você nunca será um homem, ninguém nunca vai querer você com seu corpo desfigurado". Pessoas são pessoas, elas terão preconceitos, independentemente se elas também são oprimidas ou de um grupo minoritário. Eu também tenho sido verbalmente agredido por outras pessoas transexuais; geralmente elas decidem se sou ou não "trans" o suficiente, sejá lá o que isso signifique. Eu opto por continuar sendo eu mesmo, se eu não quero que os outros me julguem, não vou julgá-los.


CDOROCK - Em um dos seus vídeos, você conta das dificuldades da sua transição sexual. Que conselhos você daria para as pessoas que vão começar com essa transição?

SKYLAR - Seja você mesmo. Pode ser uma longa jornada para descobrir suas muitas identidades, mas saiba que todos nós estamos ainda aprendendo. O melhor que você pode fazer é o melhor que você pode fazer - se você apenas está se questionando, ou se assumindo para os outros, ou escolhendo começar sua transição física, saiba que você só pode controlar suas próprias ações e reações, mas não as dos outros. Pode ser assustador, caramba, eu tenho tido muito medo durante minha vida, mas cada etapa dessa viagem valeu a pena. Eu me sinto completo, feliz e verdadeiro.

Fotos: Julia Luckett / Skylar Kergil / FTM Magazine

SKYLAR KERGIL [English Version]

"Hey! I'm just your friendly neighborhood Skylar - queer, transgender, artist, college graduate, lover of mountains and good coffee, and I thought I was brown haired until my barber told me I was a blonde the other day."

And so begins the introduction of Skylar Kergil in his website. Singer, songwriter, poet, activist in the LGBT scene, who documents on Youtube his gender transition since 2009. From Massachusetts, now living in Boston, Skylar is our first transman to be interviewed. With a lovely personality, he tell us a little of his history and opinions.


CDOROCK - How did you start to play and write music?

SKYLAR - Music entered my life at a young age, mainly with my dad jamming on the same four chords on guitar and reminiscing about playing in cover bands "back in the day." I gravitated toward the guitar when I was 11 or 12, picked it up and haven't put it down much since. Poetry has always been a huge force in my life, and learning to play music helped me communicate around words in a way I hadn't before.


CDOROCK - You released a new EP recently – Tell Me A Story. It is your second álbum. How is it different from the first álbum, Thank You?

SKYLAR - One of the biggest differences is the maturity of it. Thank You was written over many years, sort of a combination of many songs I had crafted, ranging from high school through post college workings. Tell Me a Story was written more intentionally, over a shorter period of time – think one creative burst rather than six years of them. Tell Me a Story also features some of my best friends whose musicianship and inspiration helped mature the EP beyond its acoustic skeleton.


CDOROCK - Is the acoustic style just a preference or it helps to convey your messages in any way?

SKYLAR - I prefer to play acoustic mainly for the ability to travel with the songs. I also prefer my music to be easily accessible and not require technology or electricity in order to exist – there is something necessary and freeing about that for me.


CDOROCK - Would you like to explore other styles in future?

SKYLAR - Absolutely, I've been enjoying writing songs in other styles as a challenge to myself and am beginning to love some of the ways these elements can merge! There is also a little part of me that longs to craft beats.. I just seem to have no luck with it ;)


CDOROCK - Do you have some influences to write and play?

SKYLAR - Of course! One of my biggest influences is Elliot Smith, whose lyrics were also autobiographical, and his style often remained lo-fi as well. On the other hand, Jack Johnson really inspires me on happier days.


CDOROCK - How autobiographical are your lyrics and poems?

SKYLAR - Very much so – I never realized how raw my poetry was until I reread some things I wrote a couple years back. My writing simply is an extension of myself... I try not to think about it too much or I'll get all shy with the vulnerability of it all.


CDOROCK - In music, we do not have many references of queer, homosexual or transgender artists. But do you have any idols that you think has contributed to visibility and rigths of lgbt community? Any singer or band that you like to name?

SKYLAR -I really love Lucas Silveira of The Cliks, a canadian band. His transition was fantastic to watch and he spoke very openly about it and his role in activism. Mary Lambert is a gay artist I really enjoy as well, especially because she speaks to the intersectionalities of queerness, other identities, and music.

CDOROCK - Nowadays there are many transgender people talking about their experiences and exposing themselves on internet. You, for example, even have a Youtube channel. How this initiative has contributed to help other people socially and politically?

SKYLAR - By sharing my story online, I found community with others whereas I had previously felt very isolated in my high school. The internet has allowed transgender people to connect, feel empowered, and share resources. For allies or those interested in learning more about the community, the vast array of first person narratives allows a more diverse perspective of what it means to be trans – honestly, it is different for every person! I hope that the web of these stories illustrates that most of all.


CDOROCK - Do you see a possible sexualization of trans men currently in the media? What do you think about it?

SKYLAR - I'm not so sure, as I would like to think the trans men who are enjoying media light are comfortable with the ways in which they are being portrayed. However, I have definitely noticed a notion of "Trans is cool! Trans is trending!" and it worries me that transgender people could go from being invisible, not in the media at all, to being visible in the media but reduced down to one aspect of their humanity – that of being trans – and the obsession with the transgender body. I enjoy seeing first-person narratives of experiences, like that of memoirs or vlogs on YouTube, because I feel that within those mediums, transgender people can control the way their story is told and that is crucial.

CDOROCK - Do you perceive differences in the way that transgender men and women deal publicly with their condition and how much they are politically motivated?

SKYLAR - It would be difficult me to answer this as I have only lived my experience, but I do find that the transgender women I know do experience the dangers that come with living openly as 'transgender' than my transmale friends do. It is impossible to ignore the staggering rates of violence against transgender women. It breaks my heart daily. There is an urgency in our societies to accept women, to accept transgender women, and to treat them with the respect and dignity that they deserve. 

CDOROCK - For some cis people, sexuality seems not to be a big problem or even the labels about that. For some transgender people is it different? I mean: transexuality, beyond the issue of gender, turns sexual orientation a more complex issue?

SKYLAR - I don't believe that is necessarily true. Being transgender impacted my sexual orientation only because a lesbian is a woman who likes women – and I didnt identify as a woman – but the rest of society identified me as a woman.. so was I a lesbian? I hardly thought about this though – learning my identity was more important than putting a label on what my identity is.

CDOROCK - Do trans people still suffer prejudice in cisgender lesbian and gay communities?

SKYLAR - Absolutely. This can occur in many ways, whether that be exclusion from LGB spaces or being verbally harassed by other LGB identified folks. I am sad to admit that the majority of my bullies identified within the LGB community; usually this has taken form withcomments  such as "You know you are just a lesbian just like us – we know you will transition back and realize your mistake, you're not fooling anyone" from the women's community. Or alternatively from the gay men's community I have heard "You will never be a man, no one will ever want you with your disfigured body." People are people, they will have prejudices regardless if they may also be oppressed or a minority group. I have also been verbally harassed by other transgender people, usually them deciding if I am or am not "trans" enough, whatever that may be. I choose to keep being myself; if I do not want others to judge me, I do not judge them.

CDOROCK - In one of your videos, you talk about the difficulties of sexual transition. What advices can you give to people who want to start this transition?

SKYLAR - Be yourself, it can be a long journey to discover your many identities, but know that we are all still learning. The best you can do is the best you can do – whether you are just asking questions, coming out to others, or choosing to begin your physical transition – know that you can only control your own actions and reactions, but you can't control those around you. It can be scary, heck, I've been scared for a lot of my life, yet every step of this journey has been worth it. I feel whole and happy and true.

Photos: Julia Luckett / Skylar Kergil / FTM Magazine

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

REGINALDO LINCOLN

A banda Vanguart vem ganhando cada vez mais espaço dentro da música nacional. Aos poucos, o jeito peculiar de tocar e cantar populariza no Brasil o tal do folk rock, estilo já comum no exterior, sobretudo nos EUA, que une o velho rock à música folclórica — ou aquela ainda não contaminada pela "comunicação de massa" das cidades grandes.

De Mato Grosso, este ano Vanguart foi consagrada a banda do ano pela paulista e cosmopolita MTV, mostrando que o melhor do nosso rock caminha por fora dos grandes e velhos meios.

Reginaldo, o baixista, conversa com o CdoRock pra contar um pouco como é fazer parte disso tudo. Confiram. Divirtam-se.

CDOROCK - O que significa fazer parte da melhor banda do ano pela MTV?

REGINALDO - Tem um significado muito especial. Cresci assistindo à MTV, gostando e respeitando muito o VMB, sempre. É o prêmio mais importante da música brasileira, é o que na história da carreira dos artistas. Ser a banda com o maior número de indicações e levar o prêmio de melhor banda foi, sem dúvida, a coroação do "Boa parte de mim vai embora"  e de todos esses anos de trabalho, muito aprendizado e amadurecimento. O prêmio de Melhor Banda diz muito sobre a gente, que vive e divide tudo relacionado ao Vanguart.

CDOROCK - A maioria dos concorrentes ao prêmio de melhor banda do VMB 2012 eram bandas de menor projeção comercial. Isso significa que o melhor da música brasileira corre por fora da grande cena?

REGINALDO - Sim, mas tem muita coisa boa por todos os cantos. Já não dá pra segmentar, se o trabalho é bom, é bem feito, não importa se é independente ou se está nas grandes mídias. Eu gosto de quem trabalha!. De quem dá a cara a tapa mesmo. Esse ano, muitos dos artistas que concorreram a vários prêmios são artistas de grande projeção, seja na internet, venda de discos, rádio ou televisão. Essa mistura de artistas e bandas de todos os tipos acaba sendo interessante pra todo mundo, principalmente para o público.


CDOROCK - Vocês utilizaram vários novos recursos da internet para o lançamento do álbum mais recente. Que importância, na prática, você observou no diálogo com as novas mídias para bandas como a Vanguart?

REGINALDO - Mais gente nos shows, mais discos vendidos… Mais fãs em contato direto com a gente. Talvez seja isso o mais legal, conhecer essas pessoas, tirar essa distância que sempre existiu entre fã e artista.  Além de facilitar muito o nosso trabalho à distância também, como, por exemplo, para o lançamento do clipe de "Nessa Cidade", onde todo o processo, desde as primeiras conversas até a versão final, foi todo via internet. Estamos preparando um site novo também, pra canalizar tudo por lá. Internet em tudo e cada vez mais!.

CDOROCK - E como conciliar a necessidade do uso das novas mídias com a resistência de estimular o compartilhamento gratuito de música por causa das antigas questões contratuais?

REGINALDO - Apóio todos que baixam suas músicas em casa, sou desses. Pagando ou não, estou sempre consumindo música, de todas as formas. Nunca deixei de comprar cd's e dvd's das bandas que eu gosto. Continuo baixando coisas novas, de graça, se eu gosto eu acabo comprando ou indo atrás de outros produtos.


CDOROCK - Como aconteceu o encontro para a formação atual da Vanguart?

REGINALDO - O primeiro que conheci foi o Douglas, nos conhecemos tocando com nossas bandas, por amigos em comum e ele acabou gravando comigo a demo da minha primeira banda. Foi assim com todos, como com David e Lazza, onde cada um de nós tinha um banda diferente, de estilos muito diferentes, mas que frequentavam os mesmos lugares, os mesmos shows e tocavam juntos. Em Cuiabá é assim, os públicos se misturam muito e está tudo bem.

O Hélio e eu nos conhecemos e começamos a nos aproximar em 2003 quando gravamos o segundo disco caseiro do Vanguart na minha casa. Quando fomos fazer shows, começamos a chamar os melhores amigos, os que podiam tocar melhor, os que curtiam as ideias dessas primeiras músicas. Nunca mudamos de formação, mas mudamos os instrumentos. Douglas já tocou guitarra e teclado, Lazza tocou o baixo, eu já fui o baterista... Até que, com as idas e vindas da vida, a gente acabou nessa formação, mais por "timing" do que por escolha. A Fernanda surgiu há uns dois anos na nossa vida e já "entrou solando", literalmente e na gíria, pra ficar de vez.


CDOROCK - Por que folk rock? O público brasileiro aceita e compreende bem esse estilo?

REGINALDO - Intuitivamente, sempre ouvi e gostei muito disso, desde Beatles, Dylan e Neil Young até Secos e Molhados, Raul Seixas e a própria música caipira do Brasil. Ouço muito o Bella Fleck também...Tudo isso é Folk! Quando o Hélio trouxe as primeiras ideias eu confesso que não gostei muito, pois era tudo muito simples de tocar, muito direto, dó, sol e fá maior… Ao mesmo tempo em que eu sempre ficava tocado com as canções, pela força que aquilo adquiria com a mais profunda simplicidade. O público sempre nos recebeu muito bem, o folk faz parte da cultura do brasileiro, tanto para os que ouvem música estrangeira como para os que gostam de música de raiz e do rock dos anos 60 e 70 no Brasil.

CDOROCK - No início da banda, muitas das composições eram em inglês. O que mudou para investirem mais no português?

REGINALDO - A nossa vontade de sermos compreendidos, de ter a resposta imediata no palco, de perceber o que faz sentido e como as pessoas absorvem o que escrevemos. Eu e o Hélio ainda compomos em inglês, mas é simplesmente uma questão de força. Quando cantamos em português abrimos o coração para as pessoas, tomamos fôlego pra nos entregar pro mundo.


CDOROCK - Você tem projetos paralelos na música? Quais?

REGINALDO - Já fiz parte de alguns projetos tocando nos shows ou gravando junto com alguns amigos e participei de algumas gravações, mas nada muito sério. Gostaria de fazer isso mais vezes! Sempre aprendo muito. Recentemente, gravei no Estúdio Inca (estúdio onde o Vanguart gravou os dois álbuns) a primeira música do que será o meu disco solo. Sem pressa, será um processo longo, mas muito bem pensado e executado; essas músicas significam muito pra mim e se eu precisar de tempo para registrá-las da melhor forma possível, assim será.

CDOROCK - Então alguma esperança de ter mais você nos vocais?

REGINALDO - A ideia é essa. Ao mesmo tempo que o principal é o que a música precisa, o que ela pede. Isso sempre falou mais alto no Vanguart e continuamos assim. 


CDOROCK - O que esperar do seu disco solo? Será diferente do som que já faz com o Vanguart? Tem previsão de lançamento?

REGINALDO - Minhas músicas pra esse disco têm algo de simples e direto que difere um pouco do Vanguart, mas nem tanto. Afinal de contas ainda sou eu tendo ideias e as colocando em prática do meu melhor jeito. Por não ter a ajuda de ninguém, preciso resolver tudo sozinho também e creio que isso é o que vai fazer a diferença. Alguma coisa com sonoridade mais pesada e densa, letras que falam de nostalgia, de paciência pra sentir e pensar… Ainda está sendo tudo criado então não tenho como dar muitas direções. Estou fazendo tudo com muita calma e já perdi a pressa que tinha, agora só quero fazer um bom trabalho.


CDOROCK - A Vanguart estará no próximo Lollapallooza. Preparados?

REGINALDO - Por enquanto mais felizes e entusiasmados do que preparados! Tem bastante coisa pela frente até lá e estamos focados pra fazer o melhor possível, sempre!

CDOROCK - E como foi abrir para o Snow Patrol este ano?

REGINALDO - Incrível, conheço e admiro bastante. Tentamos levar um show o mais completo possível, no que diz respeito a estrutura do show, tanto para o Rio como para São Paulo. Apesar de terem sido curtos, acho que conseguimos causar o impacto de não ser apenas a banda de abertura, mas sim uma atração a mais. Eles todos foram muito atenciosos também, ouviram nosso disco, assistiram aos shows… Realmente foi um encontro muito especial e importante!

CDOROCK - Você também se submeteu a uma experiência em reality show. Passado o tempo, como avalia essa experiência? Ela trouxe algum tipo de consequência para a banda?

REGINALDO - Não tenho muito o que dizer sobre a experiência. Quando penso no que não fazer com a minha vida, sempre lembro disso! Mesmo assim, me ajudou muito a pagar algumas várias dívidas e começar a reconstruir minha vida que estava bem complicada na época. Para a banda foi bom também, não atrapalhou em nada, muitas pessoas nos conheceram no programa e nos acompanham até hoje, então eu fico feliz por isso!


CDOROCK - Você se considera ou já lhe disseram que você é o grande galã da Vanguart?

REGINALDO - Já! Fico feliz e agradecido pelo elogio mas eu não acredito não. Apesar de minha mãe dizer o mesmo [Risos].


CDOROCK - Já passou por alguma situação engraçada de assédio por parte das meninas ou, quem sabe, dos rapazes?

REGINALDO - Às vezes rolam uns exageros, mas nada demais. No máximo uma cantada mais efusiva e direta, mas eu fico tranquilo nessas horas ou acabo caindo na risada e fica tudo bem.

Fotos: acervo pessoal e divulgação.

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