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quarta-feira, 25 de outubro de 2017

ZELIMKHAN BAKAEV

Quando se é contra que escolas abordem a sexualidade, a identidade de gênero, o respeito e a tolerância, o que acontece é a morte. Quando se retira a menção à orientação sexual das leis contra discriminação, o que acontece é a morte. Quando se permite que religiosos tragam suas verdades distorcidas para o campo da política, o que acontece é a morte. Quando somos favoráveis à censura às expressões artísticas, o que acontece é a morte. Morte, morte, morte. Temos sangue nas mãos quando não superamos nossos preconceitos. Temos sangue nas mãos pela morte de Zelimkhan Bakaev.


Ele tinha 25 anos e ganhou popularidade num programa de talentos. Nasceu em Grozny, na Chechênia, país da Federação Russa. Começou a cantar ainda bem jovem, participou do grupo de dança e música Stolitsa, quando se tornou mais conhecido, principalmente nos países da Rússia. Como cantor, canções como “Мичахь хьо лела безам”, “Доьхна Дог”, “Нана” estavam construindo sua carreira.




Trajetória que foi interrompida pelas leis e cultura antigay daquela região. Há algum tempo, a Rússia tem estimulado o ódio e a perseguição a homossexuais e qualquer ato que seja considerado como “propaganda gay” é agressivamente censurado. Nem Madonna escapou quando esteve em turnê naquele país, ameaçada de processo.

Zelimkhan não era assumido publicamente. A denúncia que agora é feita é que ele foi preso por “suspeita” de ser homossexual. Foi torturado e assassinado por policiais chechenos. Passou semanas desaparecido e só agora sua situação é revelada. Seus rastros foram apagados das redes sociais – perfis apagados do instagram, twitter –, restando apenas um vídeo gravado supostamente na Alemanha em que o cantor dizia que tinha abandonado a Chechênia por ali só haver “cuzões”. O vídeo é considerado uma fraude.

Bakaev (Зелимхан Бакаев, na sua língua nativa) não cantava em inglês. Era cidadão de um país cuja independência nem é reconhecida pelo resto do mundo, estava em início de carreira, portanto sua projeção internacional era ínfima. Sua morte mal está sendo divulgada – talvez o maior veículo de imprensa a noticiá-la tenha sido a revista Attitude britânica. Ele não será símbolo de nada, mas é importante que saibamos de sua existência e lutemos. Um onda de ódio e repressão toma conta de vários países do mundo. O inimigo está no poder.


sexta-feira, 25 de março de 2016

ANOHNI (ANTONY HEGARTY)

Um momento marcante da carreira de Anohni, até então mais conhecida como Antony Hegarty, é sua participação no filme francês Wild Side, de 2004, sobre uma transexual que precisa retornar à casa da mãe doente. Na curta cena, Anohni canta I Fell in Love with a Dead Boy em meio a outras transexuais, quase todas prostitutas das ruas de Paris. O timbre melancólico da cantora traduz a realidade daquelas mulheres, e de si mesma, e a letra da canção nos conduz a um estado de espírito semelhante, tanto pela tragédia emocional que retrata, a paixão por um garoto morto, como pelo questionamento de gênero em que culmina. Anohni canta e pergunta ao garoto da canção e logo a todas a sua volta: Are you a boy or a girl? E o olhar de todas nos diz como dói a pergunta.


Assim surge a cantora inglesa, também compositora e artista visual, com suas canções melancólicas, às vezes até mórbidas, em que amor e tragédia parecem indissociáveis, mas, sobretudo, em que o conflito da identidade de gênero é uma constante. Seu primeiro álbum é de 2000, dentro do projeto Antony and the Johnsons, com quatro trabalhos lançados. O mais popular, vencedor inclusive do Mercury Prize, premiação alternativa ao Brit Awards, mas de considerável prestígio, é o segundo, I Am a Bird Now (2005), cuja canção For Today I Am a Boy, é das mais expressivas a respeito de sua transexualidade.

Ahnoni sempre se mostrou uma artista extremamente sensível, com influências de Nina Simone a Diamanda Galás, e afinidade com diversos nomes da música pop que um dia já se colocaram em posição de questionamento de padrões heteronormativos, como o também inglês Boy George, com o qual gravou You Are My Sister. Suas canções, muitas ao piano, parecem ter a morte, o desamor e a baixa autoestima como temas constantes (Hope There's Someone e Cripple and the Starfish), cicatrizes talvez da condição de ter convivido com um corpo não condizente com sua verdadeira identidade. Sobre sua condição, já declarou: “Na minha vida pessoal, prefiro "ela". Eu penso que palavras são importantes. Chamar uma pessoa pelo gênero que ela escolheu é honrar seu espírito, sua vida e contribuição. "Ele" é um pronome invisível para mim, é algo que me nega.”

Melancolias que a tornaram uma das artistas mais ricas e profundas dos últimos anos, e uma das vozes mais belas. Seu talento no entanto a fortalece cada vez mais como mulher. Seu quinto álbum de estúdio, a ser lançado em maio de 2016, Hopelessness, é o primeiro sob a alcunha de Anohni, e dois singles já foram divulgados nas redes: Drone Bomb Me e 4 Degrees, que mostram mudanças no estilo da cantora, que agora também se abre mais a elementos da música eletrônica.

Este ano também, Anohni foi a primeira transexual a ser indicada a uma categoria do Oscar, defendendo a canção Manta Ray, do filme Racing Extinction. Como não foi convidada a cantar a canção durante a cerimônia, divulgou nas redes sociais que não compareceria à festa, dando a entender que sua imagem de transexual incomodava àquela indústria. A canção também não foi premiada, como muitos também já esperavam. Mas só quem perde de verdade são essas entidades arcaicas, que pouco ainda acrescentam à cultura da humanidade. Nós, que conhecemos Anohni, estamos com a vantagem.

Fotos: Divulgação

sábado, 23 de janeiro de 2016

BOY GEORGE

Primeiro o rock era negro, e transgredia. Depois ficou branco, mas, excessivamente sexual, transgredia. Vieram as drogas, a paz e o amor, e continuou a transgredir, como continuou em seguida com os espinhos metálicos nas jaquetas rasgadas e as notas simplificadas das guitarras. Até que maquiagens pesadas, sapatos plataforma, calças justas, laquês e o preto básico camuflaram o machismo, o sexismo, a homofobia e até o fundamentalismo. Restou ao pop os louros da transgressão.

Nesse intermédio que surgiu a Culture Club, banda inglesa liderada por Boy George, homem gay, afeminado, travestido. Oriundo do movimento New Romantic, que trazia o glam, a exuberância e androginia à cena, até como uma resposta ao punk, sua imagem era uma afronta, não porque nos fazia lidar com uma fantasia, uma brincadeira ou uma simples provocação, mas porque nos trazia uma verdade: Boy George era o que era, não se escondia. E deixava bem claro: “Eu quero que Culture Club represente todos os povos e minorias”.

Musicalmente, a banda abrangia muitos estilos, inclusive os mais inesperados para um homem como ele, como o reggae. Vinha na contramão da música eletrônica rasteira, tão presente em clubes noturnos, e do rock soturno dos guetos e do heavy metal dos rebeldes conservadores. É como se Boy George enxergasse além, mais do que esperaríamos compreender.

A banda surgiu em 1981, com o primeiro álbum, Kissing to be Clever, lançado já em 1982. Estouraram com o single Do You Really Want To Hurt Me e logo conseguiram uma carreira na famigerada América, sendo a primeira banda desde os Beatles a ter três canções no Top 10 daquele país. Do segundo álbum, Colour by Numbers, veio o grande sucesso, Karma Chameleon. Com o álbum, ganharam o primeiro Grammy e George fez o lendário discurso de agradecimento: “Obrigado, América. Vocês têm estilo, vocês têm bom gosto e sabem reconhecer uma boa drag queen quando veem uma”.

Como era de praxe à época, a decadência da banda começou com o vício de George em drogas, o que tornou sua carreira mais irregular, com muitos conflitos internos na banda, dando margem a uma carreira solo, iniciada com Sold (1987) e que já tem treze trabalhos. O mais recente, de 2013, This What I Do, foi o seu primeiro solo desde Sold a alcançar o Top 40 do Reino Unido, e chamado pelo The Guardian de “o melhor retorno do ano”.

Em tempos de um rock careta e covarde, extremamente branco, hétero e classe média, em tempos de um levante contra a discriminação aos "afeminados", é bom lembrar de figuras como Boy George, que oferece outros caminhos e novas perspectivas. O Caralho do Rock, com essa postagem, deixa claro que olhará com mais cuidado para outros estilos e identidades de gênero já que presencia uma fase em que “roqueiros” começam a ter medo de aparecer por aqui, por ser sermos gays e desviados demais. Que venha o novo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

JAKE SHEARS

Ele não é bem do rock, mas se tornou um dos homens gays que mais se destacaram na música nos últimos anos. Não apenas porque tem suas preferências sexuais assumidas, mas porque as incorpora em seu trabalho e em sua personalidade artística. Jake Shears é o vocalista da banda gay mais bem sucedida deste novo milênio, a Scissor Sisters.

Americana, a banda passou os primeiros anos brilhando bem mais em terras estrangeiras. Considerados “gays demais para os EUA”, a Scissor Sisters conquistou sobretudo os ingleses, mas também os australianos e, claro, os brasileiros. Formada em 2001, passou um tempo batizada de Dead Lesbians, mas depois firmaram o nome definitivo que nada mais é que uma alusão ao sexo lésbico. A Scissors Sisters tem quatro álbuns de estúdio. O último é de 2012, Magic Hour, época em que anunciaram uma pausa na carreira por tempo indeterminado.

A banda se revelou com a cover do Pink Floyd, Comfortably Numb, presente no primeiro álbum. Além disso, chamava a atenção pela performance debochada, alegre e bem afetada, com direitos a provocantes stripteases de Jake. Lançou canções que tanto conquistavam pela energia como pelas letras, que sempre faziam de um modo ou de outro referência à cultura dance gay. O primeiro álbum, homônimo, foi o que mais se destacou, tanto por músicas que estimulavam a “saída do armário”, levando a mãe a uma balada (Take Your Mama), como em momentos mais melancólicos, abordando as drogas e a epidemia da AIDS (Return to Oz).

Considerado por alguns o vocalista mais extravagante desde Freddie Mercury, Jake (na verdade, Jason), sempre fez questão que a Scissor Sisters em nenhum momento fosse uma banda “enrustida”. Sempre defendeu a responsabilidade que os artistas tinham em sair do armário, e da importância de ser feliz “sendo quem é”. Ele sabe que isto tem seu preço, mas sabe também que vale muito a pena.

Nativo da balada, Jake já foi inclusive go-go boy. E abusa da beleza e dos agudos vocais para provocar a plateia e transformar seu show sempre num episódio memorável de liberdade de expressão e sexual. Há tempos ele é pedido aqui e não poderia faltar. A cultura queer agradece a sua presença.

domingo, 9 de agosto de 2015

SKYLAR KERGIL

ENGLISH VERSION HERE.

"Ei! Eu sou apenas o seu simpático vizinho, Skylar - queer, transgênero, artista, graduado, que adora montanhas e um bom café; e eu pensava que era moreno até minha barba me mostrar que eu era loiro um dia desses..."

Assim começa a apresentação de Skylar Kergil em seu site. Cantor, compositor, poeta, ativista da cena LGBT, que documenta no Youtube sua transição de gênero desde 2009. De Massachusetts, agora residente em Boston, Skylar é nosso primeiro homem trans entrevistado. De personalidade adorável, ele nos conta um pouco de sua história e opiniões.


CDOROCK - Como você começou a tocar e escrever música?

SKYLAR - A música entrou na minha vida quando era bem jovem, principalmente com meu pai dedilhando os mesmos quatro acordes no violão e lembrando de quando tocava em bandas de covers num passado distante. Eu rodeava aquele violão aos 11 ou 12 anos, até que o empunhei e não larguei mais. A poesia sempre foi uma força enorme em minha vida, e aprender a tocar música ajudou a me comunicar por meio de palavras de um jeito que eu nunca tinha feito antes.


CDOROCK - Você lançou um novo EP recentemente - Tell Me A Story. É o seu segundo álbum. Qual a diferença dele para o primeiro, Thank You?

SKYLAR - Uma das maiores diferenças é a maturidade dele. Thank You foi escrito ao longo de muitos anos, é uma espécie de combinação de muitas canções, variando trabalhos da época do colégio até os tempos de faculdade. Tell Me A Story foi escrito mais intencionalmente, durante um período mais curto - acho que foi uma explosão de criatividade em vez de seis anos dela. Tell Me A Story reúne alguns dos meus melhores amigos, cuja musicalidade e inspiração ajudou o EP a amadurecer para além do seu esqueleto.

CDOROCK - O estilo acústico é só uma preferência ou lhe ajuda a transmitir suas mensagens de alguma maneira?

SKYLAR - Eu prefiro tocar acústico principalmente pela capacidade de viajar com as canções. Também prefiro que minha música seja mais acessível e não precise de tecnologia ou eletricidade para existir - há algo de libertador e necessário nisso para mim.

CDOROCK - Você gostaria de explorar outros estilos no futuro?

SKYLAR - Certamente. Eu tenho curtido escrever canções de outros estilos como um desafio para mim e começo a adorar a maneira como esses elementos se fundem! Há também uma parte de mim que anseia por criar batidas. Eu só não pareço ter sorte com isso ;)

CDOROCK - Você tem influências para tocar e compor?

SKYLAR - É claro! Uma das minhas maiores influências é Elliot Smith, de quem as letras são também autobiográficas e seu estilo também permanece "lo-fi" muitas vezes. Por outro lado, Jack Johnson me inspira nos dias mais felizes.

CDOROCK - Quão autobiográficas são suas letras e poemas?

SKYLAR - Muito - Eu nunca percebi o quão bruta minha poesia era até que reli algumas coisas que escrevi alguns anos atrás. Minha escrita é simplesmente uma extensão de mim. Eu tento não pensar muito nisso para não ficar todo tímido com a vulnerabilidade disso tudo.

CDOROCK - Na música, nós não temos muitas referências de artistas queers, homossexuais ou transexuais. Mas você tem algum ídolo que ache que tenha contribuído com a visibilidade dos direitos da comunidade LGBT? Algum cantor ou banda que gostaria de citar?

SKYLAR - Eu realmente amo Lucas Silveira da The Cliks, uma banda canadense. Sua transição foi fantástica de ver e ele falou muito abertamente sobre isso e seu papel no ativismo. Mary Lambert é uma artista gay que eu também gosto muito, especialmente porque ela fala das intersecções queers, outras identidades, e música.

CDOROCK - Hoje em dia, há muitas pessoas transgênero contando suas experiências e se expondo na internet. Você, por exemplo, tem um canal no Youtube. Como essas iniciativas contribuem para ajudar outras pessoas social e politicamente?

SKYLAR - Compartilhando minha história, eu me encontrei numa comunidade, enquanto antes eu me sentia muito isolado na escola. A internet permite as pessoas transgênero a se conectarem, se sentirem empoderadas e dividir recursos. Para os aliados ou aqueles interessados em aprender mais sobre a comunidade, a vasta gama de narrativas pessoais permite uma perspectiva mais diversa do que significa ser trans - honestamente, é diferente para cada pessoa! Eu espero que essas histórias na web representem a maioria.

CDOROCK - Você vê uma possível sexualização dos homens trans atualmente na mídia? O que pensa sobre isso?

SKYLAR - Não estou tão certo como eu gostaria de que os homens trans estão desfrutando tão confortavelmente dessa visibilidade da mídia pelo modo como estão sendo retratados. No entanto, tenho notado definitivamente uma ideia de que "Trans é legal, trans é tendência!" e me preocupa que as pessoas trans possam passar da invisibilidade total nos meios de comunicação para a visibilidade reduzida a apenas um aspecto da sua humanidade - a de ser trans, e a obsessão com o corpo trans. Gosto de ver narrativas de experiências pessoais, como as de memórias ou os vlogs do Youtube, porque eu sinto que, dentro dessas mídias, as pessoas trans podem controlar a forma como sua história é contada, o que é crucial.

CDOROCK - Você percebe diferenças no modo como homens e mulheres trans lidam publicamente com sua condição e como eles são politicamente engajados?

SKYLAR - Seria difícil para eu responder a isso, já que tenho vivido apenas a minha experiência, mas eu acho que as mulheres trans que conheço experimentam os perigos de viver abertamente como "transgêneros" tanto quanto meus amigos homens trans. É impossível ignorar as taxas de violência contra mulheres trans. Isso me comove diariamente. Há uma urgência em nossas sociedades para aceitar mulheres, aceitar mulheres trans, e tratá-las com o respeito e dignidade que merecem.

CDOROCK - Para algumas pessoas "cis", a sexualidade não parece ser um grande problema, ou mesmo os rótulos sobre isso. Para algumas pessoas trans é diferente? Digo: a transexualidade, para além da questão do gênero, torna a sexualidade uma questão mais complexa?

SKYLAR - Eu não acredito que isso seja necessariamente verdade. Ser transgênero impactou minha orientação sexual apenas porque uma lésbica é uma mulher que gosta de mulheres - e eu não me identifico como uma mulher, mas o resto da sociedade sim... Então eu era lésbica? Eu quase não penso sobre isso - conhecer minha identidade foi mais importante do que colocar um rótulo nela.

CDOROCK - Pessoas trans ainda sofrem preconceito da comunidade gay e lésbica cisgênero?

SKYLAR - Com certeza! Isso pode acontecer de várias maneiras, seja pela exclusão nos espaços LGB ou sendo verbalmente assediado por outras pessoas LGB. Sinto admitir que a maioria dos meus agressores eram de dentro da comunidade LGB. Geralmente isso toma forma com comentários do tipo "Você sabe que você é apenas uma lésbica como nós - a gente sabe que você vai voltar atrás em sua transição e perceber o seu erro, você não engana ninguém" - isso entre as mulheres. Ou, por outro lado, por parte dos homens gays eu ouço "Você nunca será um homem, ninguém nunca vai querer você com seu corpo desfigurado". Pessoas são pessoas, elas terão preconceitos, independentemente se elas também são oprimidas ou de um grupo minoritário. Eu também tenho sido verbalmente agredido por outras pessoas transexuais; geralmente elas decidem se sou ou não "trans" o suficiente, sejá lá o que isso signifique. Eu opto por continuar sendo eu mesmo, se eu não quero que os outros me julguem, não vou julgá-los.


CDOROCK - Em um dos seus vídeos, você conta das dificuldades da sua transição sexual. Que conselhos você daria para as pessoas que vão começar com essa transição?

SKYLAR - Seja você mesmo. Pode ser uma longa jornada para descobrir suas muitas identidades, mas saiba que todos nós estamos ainda aprendendo. O melhor que você pode fazer é o melhor que você pode fazer - se você apenas está se questionando, ou se assumindo para os outros, ou escolhendo começar sua transição física, saiba que você só pode controlar suas próprias ações e reações, mas não as dos outros. Pode ser assustador, caramba, eu tenho tido muito medo durante minha vida, mas cada etapa dessa viagem valeu a pena. Eu me sinto completo, feliz e verdadeiro.

Fotos: Julia Luckett / Skylar Kergil / FTM Magazine

SKYLAR KERGIL [English Version]

"Hey! I'm just your friendly neighborhood Skylar - queer, transgender, artist, college graduate, lover of mountains and good coffee, and I thought I was brown haired until my barber told me I was a blonde the other day."

And so begins the introduction of Skylar Kergil in his website. Singer, songwriter, poet, activist in the LGBT scene, who documents on Youtube his gender transition since 2009. From Massachusetts, now living in Boston, Skylar is our first transman to be interviewed. With a lovely personality, he tell us a little of his history and opinions.


CDOROCK - How did you start to play and write music?

SKYLAR - Music entered my life at a young age, mainly with my dad jamming on the same four chords on guitar and reminiscing about playing in cover bands "back in the day." I gravitated toward the guitar when I was 11 or 12, picked it up and haven't put it down much since. Poetry has always been a huge force in my life, and learning to play music helped me communicate around words in a way I hadn't before.


CDOROCK - You released a new EP recently – Tell Me A Story. It is your second álbum. How is it different from the first álbum, Thank You?

SKYLAR - One of the biggest differences is the maturity of it. Thank You was written over many years, sort of a combination of many songs I had crafted, ranging from high school through post college workings. Tell Me a Story was written more intentionally, over a shorter period of time – think one creative burst rather than six years of them. Tell Me a Story also features some of my best friends whose musicianship and inspiration helped mature the EP beyond its acoustic skeleton.


CDOROCK - Is the acoustic style just a preference or it helps to convey your messages in any way?

SKYLAR - I prefer to play acoustic mainly for the ability to travel with the songs. I also prefer my music to be easily accessible and not require technology or electricity in order to exist – there is something necessary and freeing about that for me.


CDOROCK - Would you like to explore other styles in future?

SKYLAR - Absolutely, I've been enjoying writing songs in other styles as a challenge to myself and am beginning to love some of the ways these elements can merge! There is also a little part of me that longs to craft beats.. I just seem to have no luck with it ;)


CDOROCK - Do you have some influences to write and play?

SKYLAR - Of course! One of my biggest influences is Elliot Smith, whose lyrics were also autobiographical, and his style often remained lo-fi as well. On the other hand, Jack Johnson really inspires me on happier days.


CDOROCK - How autobiographical are your lyrics and poems?

SKYLAR - Very much so – I never realized how raw my poetry was until I reread some things I wrote a couple years back. My writing simply is an extension of myself... I try not to think about it too much or I'll get all shy with the vulnerability of it all.


CDOROCK - In music, we do not have many references of queer, homosexual or transgender artists. But do you have any idols that you think has contributed to visibility and rigths of lgbt community? Any singer or band that you like to name?

SKYLAR -I really love Lucas Silveira of The Cliks, a canadian band. His transition was fantastic to watch and he spoke very openly about it and his role in activism. Mary Lambert is a gay artist I really enjoy as well, especially because she speaks to the intersectionalities of queerness, other identities, and music.

CDOROCK - Nowadays there are many transgender people talking about their experiences and exposing themselves on internet. You, for example, even have a Youtube channel. How this initiative has contributed to help other people socially and politically?

SKYLAR - By sharing my story online, I found community with others whereas I had previously felt very isolated in my high school. The internet has allowed transgender people to connect, feel empowered, and share resources. For allies or those interested in learning more about the community, the vast array of first person narratives allows a more diverse perspective of what it means to be trans – honestly, it is different for every person! I hope that the web of these stories illustrates that most of all.


CDOROCK - Do you see a possible sexualization of trans men currently in the media? What do you think about it?

SKYLAR - I'm not so sure, as I would like to think the trans men who are enjoying media light are comfortable with the ways in which they are being portrayed. However, I have definitely noticed a notion of "Trans is cool! Trans is trending!" and it worries me that transgender people could go from being invisible, not in the media at all, to being visible in the media but reduced down to one aspect of their humanity – that of being trans – and the obsession with the transgender body. I enjoy seeing first-person narratives of experiences, like that of memoirs or vlogs on YouTube, because I feel that within those mediums, transgender people can control the way their story is told and that is crucial.

CDOROCK - Do you perceive differences in the way that transgender men and women deal publicly with their condition and how much they are politically motivated?

SKYLAR - It would be difficult me to answer this as I have only lived my experience, but I do find that the transgender women I know do experience the dangers that come with living openly as 'transgender' than my transmale friends do. It is impossible to ignore the staggering rates of violence against transgender women. It breaks my heart daily. There is an urgency in our societies to accept women, to accept transgender women, and to treat them with the respect and dignity that they deserve. 

CDOROCK - For some cis people, sexuality seems not to be a big problem or even the labels about that. For some transgender people is it different? I mean: transexuality, beyond the issue of gender, turns sexual orientation a more complex issue?

SKYLAR - I don't believe that is necessarily true. Being transgender impacted my sexual orientation only because a lesbian is a woman who likes women – and I didnt identify as a woman – but the rest of society identified me as a woman.. so was I a lesbian? I hardly thought about this though – learning my identity was more important than putting a label on what my identity is.

CDOROCK - Do trans people still suffer prejudice in cisgender lesbian and gay communities?

SKYLAR - Absolutely. This can occur in many ways, whether that be exclusion from LGB spaces or being verbally harassed by other LGB identified folks. I am sad to admit that the majority of my bullies identified within the LGB community; usually this has taken form withcomments  such as "You know you are just a lesbian just like us – we know you will transition back and realize your mistake, you're not fooling anyone" from the women's community. Or alternatively from the gay men's community I have heard "You will never be a man, no one will ever want you with your disfigured body." People are people, they will have prejudices regardless if they may also be oppressed or a minority group. I have also been verbally harassed by other transgender people, usually them deciding if I am or am not "trans" enough, whatever that may be. I choose to keep being myself; if I do not want others to judge me, I do not judge them.

CDOROCK - In one of your videos, you talk about the difficulties of sexual transition. What advices can you give to people who want to start this transition?

SKYLAR - Be yourself, it can be a long journey to discover your many identities, but know that we are all still learning. The best you can do is the best you can do – whether you are just asking questions, coming out to others, or choosing to begin your physical transition – know that you can only control your own actions and reactions, but you can't control those around you. It can be scary, heck, I've been scared for a lot of my life, yet every step of this journey has been worth it. I feel whole and happy and true.

Photos: Julia Luckett / Skylar Kergil / FTM Magazine

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