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terça-feira, 28 de junho de 2016

J.D. SAMSON

O mundo já nasceu mudado, nós é que demoramos a dar conta. Os gêneros sempre foram fluidos, as sexualidades também. Tentamos nos aprisionar em convenções simbólicas, tivemos algumas tentativas de romper com essas convenções, muitas delas originando novas prisões, mas sempre, sempre houve, por toda a história, aqueles com a missão de nos alertar que somos mais do que dizemos ser e do que dizem que somos.

Na música, não é diferente. Só no rock já tivemos diversos exemplos de contestações de gênero e sexualidade e um dos melhores é J. D Samson, que ganhou fama como baterista da banda Le Tigre, ativista dos direitos das mulheres e da comunidade LGBT. E que agora também integra a banda MEN, desde 2007, outro projeto de ativismo e contestação.

J. D., que nasceu Jocelyn nos Estados Unidos, entrou para a Le Tigre em 2000, com a banda já formada, e sempre manteve um visual andrógino, sobretudo pelo bigode, que se tornou sua marca. Seu visual lhe rendeu muitos questionamentos sobre sua identidade de gênero, que nunca ficou clara para o público.

De fato, a questão não é simples. Como muita gente, a primeira conclusão de J. D. é de que seria lésbica e essa foi a primeira revelação que fez às pessoas, ainda aos 15 anos. Mais tarde, tentou se identificar com a comunidade transgênero, mas não sentiu que isso lhe bastava. Hoje, toma para si todos os pronomes, masculinos ou femininos.


Em entrevista ao site Gaynz, J. D. já disse: “Acho que as pessoas ficam confusas muitas vezes sobre eu me identificar como queer, lésbica, transgênero, ou se eu atendo por pronomes masculinos ou femininos. E para ser honesta, eu não me importo muito com a maneira que as pessoas pensam de mim. Mais do que qualquer coisa eu só quero que elas não se sintam frustradas pelo meu corpo ou minha existência. Eu não quero nada além de que elas se sintam confortáveis com meu ser. E espero que elas possam encontrar uma maneira de parar de tentar me classificar e me conhecerem apenas como um ser humano”.

Para as pessoas que não se rotulam, já existe o rótulo “não-binário”, que tenta definir as pessoas que não se definem pelos conceitos de masculino ou feminino. Contradições de nossa complexidade e necessidade de nos entendermos. J. D. é mais uma grande artista que veio para bagunçar a nossa cabeça e mexer com nosso coração.

E pensar que ela já se achou feio, e não sabia que seu visual poderia ser considerado sexy. É sim, sexy, e muito, querido J. D.! Tanto que você entrou para nosso rol de caralhíssimos, o que já tardava. A gente aqui até queria que você fosse uma porta para as mulheres nesta página, mas isto a gente vai continuar devendo :)

Fotos: Divulgação

sexta-feira, 27 de maio de 2016

THEO OLIVEIRA

Menino do Rio, Theo realmente provoca arrepios. Não só pela beleza, mas pela voz, que se encaixa tão bem à paisagem carioca, e também pela música, que transita por vários estilos, aspirando liberdade, seja pela banda de rock alternativo Ponto Vênus ou em trabalho solo, mais voltado à MPB. Liberdade que também buscou ao começar sua transição de gênero assim que possível e romper com as amarras que o limitavam. 

Theo agora enfeita nossa página para um bate-papo. Conheça um pouco mais desse grande homem que só está começando a conquistar nosso coração, com um EP solo de estreia recém-lançado.

CDOROCK - Como começou a sua relação com a música?

THEO - Olha, quando criança eu adorava ficar vendo meu tio tocar violão. Achava aquilo o máximo. Lembro que meu pai também tocava, apesar de ter tido pouco contato com ele na infância. Mas o que me fez mesmo querer viver de música foi um boom que tive ao assistir a um clipe do Nirvana (mais especificamente Smells Like Teen Spirit, apesar do clichê). Quando bati os olhos naquele cara gritando com uma guitarra puto da vida foi tipo: WOW, EU QUERO FAZER EXATAMENTE ISSO! Comecei a aprender canto e teclado aos 13, mas eu era tão tímido (e não existia apoio nisso) que desisti. Voltei a tentar violão aos 14/15 anos e não durmo sem ele (risos).

CDOROCK - O que mais curte tocar e o que podemos esperar do seu som?

THEO - Eu gosto de misturar... faço uma batida de bossa em escala de blues, punk com reggae etc. Prefiro pedir para que não esperem nada, nem eu sei bem o que esperar quando começo a compor! Dependo muito da fase em que me encontro, do famoso estado de espírito. 

CDOROCK - Você acabou de lançar seu primeiro EP, No Mar. Pode contar um pouco sobre esse trabalho?

THEO - Ele é o início de algo que venho pensando tem muito tempo. Eu sou um cara muito ligado à natureza, essas coisas de elementares e tudo o mais. Sempre tive vontade de dedicar parte da minha arte a ela. Comecei pela água. "No Mar" mostra um lado meu que nem eu conhecia, coisas bem leves e alguns pontos bem particulares. Estar no mar me acalma, mergulhar me refresca. Eu diria que é o resultado de algumas questões complicadas (e bem pessoais) que fui aprendendo a digerir. Sabe quando você se sente completamente perdido e só no mundo? Em algumas músicas eu tentei compor exatamente o que gostaria de ouvir quando me sentia assim. O EP começa com uma música que chamei de "A Mais Bonita" cujo refrão insiste em te dizer que a única certeza que temos é que o fim é certo, então pra que toda essa coisa, né? Vamos cantar com a vida! 


CDOROCK - Você fala nas suas redes que do reggae pode migrar ao blues. Pretende mesmo transitar entre diferentes estilos?

THEO - Então... confesso que não pretendo "regar" (ok, péssima piadinha) nenhum EP ou CD futuro. Meu grande lema em relação à música é ser livre. 

CDOROCK - Quais suas inspirações para escrever e compor?

THEO - Olha, tudo. Eu amo poesia, amo brincar com versos subliminares e ambiguidade. Eu já passei por muita coisa na vida, apesar de ser bem jovem. Amores perdidos, solidão, depressão, embriaguez, amizades mirabolantes, revolta com política e enfim... muita história pra contar. 

CDOROCK - Tem alguma canção que nos destacaria de seu EP?

THEO - Eu gosto de "Rosa" e "Bossa". 

CDOROCK - O Rio é conhecido por ser uma cidade bem despojada. Tem sido tranquilo apresentar-se como um homem trans em público, dentro e fora do palco?

THEO - É curioso que ser trans tem me aberto algumas portas, apesar de que eu ainda não consegui espaço em palco para me apresentar solo, parece um mundo bem fechado. A cena independente tem seus clubinhos da Luluzinha, se você não participa você tem que se lançar só. Isso independe de ser trans ou cis. Depende mais da sua disposição (e dinheiro) para investir em si mesmo.

CDOROCK - Quando decidiu começar o seu processo de transição?

THEO - Assim que pude começar: aos 18.


CDOROCK - Sofreu preconceito de amigos e familiares quando assumiu sua condição?

THEO - Perdi praticamente todos os meus amigos. Meus pais me apoiaram com uma certa dificuldade no início, mas paciência!

CDOROCK - E dentro da cena gay e lésbica, ainda vê preconceito contra pessoas trans?

THEO - Ainda tem gente ignorante independente do meio, né? Fazer o quê. Eu lembro de ter sofrido muito preconceito no início da transição nessa cena. Foi bem crítico. Sempre me dei melhor com gente bi (risos).


CDOROCK - Tem acompanhado os avanços e "desavanços" acerca do uso do nome social? Que pensa sobre isso e como é essa realidade no Rio?

THEO - Sim. Isso me deixou profundamente triste esses dias. Eu consegui em 2 anos mudar meu nome na identidade, mas conheço pessoas que ainda dependem do uso de nome social. Parece que foi só um decreto, então não cancelaram nada. Mas se tem decreto, não dá pra gente ficar esperando a morte da bezerra. Aqui no RJ existiu ou ainda existe um núcleo chamado NUDIVERSIS, que foi inclusive por onde comecei o processo de retificação... o problema é a burocracia.

CDOROCK - Muitos homens trans têm se tornado símbolos sexuais, e você tem muito potencial para isso. Vê algum problema na sexualização das pessoas trans?

THEO - Eita! Que lisonjeio, hahaha! O problema não tá na sexualização nem de cis nem de trans, o problema tá em quem vê e na forma que essa pessoa pensa sobre. Eu já fiz um gogo boy (de brincadeira viu? Eu não sei dançar nada!) numa festa na Casa Nem, aqui no RJ, e adorei todo mundo me olhando. Mexer com o ego é uma delícia! Agora se uma pessoa me vê como um pedaço de carne que só serve pra sexo o problema é dela! Eu não sou só trans, sabe? Eu sou gente também. 


CDOROCK - Alguns meninos trans evitam rótulos sobre a própria sexualidade. Com você é assim ou define mais precisamente sua orientação?

THEO - Eu sou o que eu quiser ser no momento. 

CDOROCK - Aqui nO Caralho, temos muitos símbolos sexuais. Você tem os seus? Quem são?

THEO - Eu gosto de modelos andróginos... Eleonora Bosé, Andrej Pejic, até a maravilhosa Léa T (que não se enquadra nesse tipo de moda, mas...).


CDOROCK - Para terminar, como temos acesso à sua música?

THEO - Está disponível para ouvir no youtube: EP "No Mar". E também disponibilizei gratuitamente para download no soundcloud. Além do meu site: http://kaiquetheo.wix.com/kaiquetheo e página do facebook. Para minha banda, tem a página do face: https://www.facebook.com/pontovenus.

Fotos: Theo Kaique e Rodrigo Menezes

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

JAKE SHEARS

Ele não é bem do rock, mas se tornou um dos homens gays que mais se destacaram na música nos últimos anos. Não apenas porque tem suas preferências sexuais assumidas, mas porque as incorpora em seu trabalho e em sua personalidade artística. Jake Shears é o vocalista da banda gay mais bem sucedida deste novo milênio, a Scissor Sisters.

Americana, a banda passou os primeiros anos brilhando bem mais em terras estrangeiras. Considerados “gays demais para os EUA”, a Scissor Sisters conquistou sobretudo os ingleses, mas também os australianos e, claro, os brasileiros. Formada em 2001, passou um tempo batizada de Dead Lesbians, mas depois firmaram o nome definitivo que nada mais é que uma alusão ao sexo lésbico. A Scissors Sisters tem quatro álbuns de estúdio. O último é de 2012, Magic Hour, época em que anunciaram uma pausa na carreira por tempo indeterminado.

A banda se revelou com a cover do Pink Floyd, Comfortably Numb, presente no primeiro álbum. Além disso, chamava a atenção pela performance debochada, alegre e bem afetada, com direitos a provocantes stripteases de Jake. Lançou canções que tanto conquistavam pela energia como pelas letras, que sempre faziam de um modo ou de outro referência à cultura dance gay. O primeiro álbum, homônimo, foi o que mais se destacou, tanto por músicas que estimulavam a “saída do armário”, levando a mãe a uma balada (Take Your Mama), como em momentos mais melancólicos, abordando as drogas e a epidemia da AIDS (Return to Oz).

Considerado por alguns o vocalista mais extravagante desde Freddie Mercury, Jake (na verdade, Jason), sempre fez questão que a Scissor Sisters em nenhum momento fosse uma banda “enrustida”. Sempre defendeu a responsabilidade que os artistas tinham em sair do armário, e da importância de ser feliz “sendo quem é”. Ele sabe que isto tem seu preço, mas sabe também que vale muito a pena.

Nativo da balada, Jake já foi inclusive go-go boy. E abusa da beleza e dos agudos vocais para provocar a plateia e transformar seu show sempre num episódio memorável de liberdade de expressão e sexual. Há tempos ele é pedido aqui e não poderia faltar. A cultura queer agradece a sua presença.

sábado, 10 de outubro de 2015

RODDY BOTTUM

Ele foi um dos fundadores do Faith No More, participou do “gênesis” do grupo (antes chamado de Faith No Man) em 1981, muito antes do emblemático vocalista Mike Patton entrar na banda em 1988 e quase tomar conta de tudo.

Roddy é o tecladista, e o FNM tem seu gênero quase inclassificável, de tanto que flertou com diversas sonoridades. Tanta versatilidade somada a tanto sucesso fez que a banda influenciasse diversas vertentes roqueiras que viriam a surgir na década de 1990, como o famigerado nu-metal.

Outro ponto em que Roddy se destaca é o de sua sexualidade, desde que se assumiu gay em 1993, assunto que virou obrigatório em quase toda entrevista que dá. Mas isso não o incomoda: ele até já declarou, à época em que formou a banda paralela Imperial Teen (com cinco álbuns lançados, sendo o mais recente, Feel the Sound, de 2012), que sua nova banda, na qual também toca guitarra e bateria, trazia uma “sensibilidade gay” comum só a bandas hétero. Roddy se irritava com a falta de ousadia das bandas contemporâneas, com o medo que outros artistas gays tinham de parecer óbvios e não trabalharem com o tema da sexualidade em sua música. Quando então algo visualmente tão gritante como Marilyn Manson surgia, Bottum considerava isso como um “fôlego de ar fresco”.

No Faith No More, um dos trunfos mais populares de Roddy foi ter composto a canção Be Agressive, sobre sexo oral, mais como uma provocação ao hétero Mike Patton. Não contava ele que Patton não era um homem hétero qualquer, e não só gravou a música como fez dela a segunda mais executada nos shows da banda.

O FNM passou por um período difícil, com um intervalo de onze anos sem shows, só retomados em 2009. A relação entre os integrantes estava completamente desgastada, tanto que Bottum nem acreditava nessa retomada da carreira. Sorte a nossa que não apenas eles voltaram a fazer shows como gravaram agora em 2015, 18 anos depois de Album of the Year (1997), o novo e sétimo trabalho da banda, Sol Invictus.

Hoje, aos 52 anos, Bottum encanta não só pela beleza de sua maturidade, mas por ser um dos mais importantes homens gays da história do rock, uma pessoa com talento, inteligência e coragem. Com o perdão da ousadia, Bottum, você é o típico "DILF" – Daddy I'd Like to Fuck!

sábado, 19 de setembro de 2015

ADAM LAMBERT

Talvez algumas pessoas tenham demorado a levá-lo a sério. Talvez algumas pessoas nem o levem ainda. Mas como não olhar com mais atenção para aquele que é considerado o primeiro artista abertamente gay a chegar no topo da Parada de discos dos EUA, a Billboard 200, e hoje assume os vocais de uma das maiores bandas da história, a Queen?

Como muita gente deve saber, ele ganhou notoriedade em um programa de TV de competição musical, ficou em segundo lugar com performances que sempre dialogaram com o hard e o glam rock. Adotou por muito tempo um visual com muito brilho e maquiagem, reavivando a afetação dos clássicos 70 e 80. Tanta atitude fashionista não o deixou escapar de assumir suas preferências sexuais e se tornar um grande ativista da causa LGBT.

Hoje, com o terceiro álbum, The Original High, lançado este ano, Adam tenta reinventar a imagem, deixando a estética glam um pouco de lado e até mesmo a “pauta gay”, que já lhe rendeu boas polêmicas, como a apresentação de 2009 no American Music Awards, em que simulava sexo oral com um integrante de sua banda. Em recente entrevista aqui no Brasil, justificou: “Minha ideia agora é uma mentalidade pós-gay: por que ainda temos de falar disso? Eu sou gay, 100%, totalmente orgulhoso disso, mas já falei disso. Vamos seguir em frente. Ser gay não é minha vida inteira. Eu sou humano”.

Sua música também não se restringe mais ao rock, caminhando cada vez mais ao pop e à dance music, como mostra seu mais recente trabalho, Ghost Town, que, para a nossa alegria, também ganhou uma versão com os riffs de Brian May, conforme conseguimos conferir neste vídeo do Rock in Rio 2015 – e, cá para nós, que diferença faz uma guitarra!

Falando em Rock in Rio, a parceria com o Queen é o grande destaque da carreira de Adam, que conquistou os músicos britânicos já durante sua participação no programa de TV. Público e imprensa como sempre se dividem, mas Brian May e Roger Taylor estão bem certos de sua decisão, elogiando suas habilidades vocais e presença de palco. Para os veteranos, Freddie Mercury aprovaria a escolha. E a gente por aqui também gostou. Confira I Want to Break Free e The Show Must Go On.

Adam superou os jurados chatos do programa de TV, superou o segundo lugar que levou, superou o estigma de ter surgido desse tipo de programa e é um dos cantores mais populares dos EUA. E, mesmo após Bowie, Elton John, Rob Halford, George Michael, Boy George e o próprio Freddie Mercury, Adam, a gente repete, desponta como o “primeiro artista abertamente gay” a chegar no topo da parada americana (que ano é hoje mesmo?). É o suficiente: sua marca está deixada.

E ele está cada vez mais bonito.

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