sábado, 23 de outubro de 2010

RODRIGO LIMA [ENTREVISTA]

Ele está no meu top five. E com certeza no de muita gente também. Quando este espaço foi criado, uma postagem sobre ele não tardou, mas nada como um papo com o próprio moço. Aos 37 aninhos, com 20 de carreira, corpo de 25, e simpático e disponível como não se vê por aí, Rodrigo é dos principais nomes do hardcore no Brasil. Vocalista da banda Dead Fish, ele está aqui, não só pra uma entrevista, mas pra um ensaio fotográfico. Sem camisa, inclusive. Curtam aí!

As fotos são da Nati Canto. E agradeço especialmente ao Espaço dos Satyros, pela gentileza de disponibilizar seus domínios.

CDOROCK - 20 anos passaram rápido?

RODRIGO - Muito, foi ontem que eu tinha 17 anos e estava entrando numa banda pra tocar com os amigos.

CDOROCK - Vão comemorar a data de alguma maneira especial? Lançamentos?

RODRIGO - Estamos vendo algumas coisas, talvez um DVD pra comemorar, e certamente um play novo, que inclusive já começamos a fazer.

CDOROCK - Com tanto tempo de estrada, já dá pra viver do Dead Fish?

RODRIGO - Já deu pra viver do Dead fish, hoje não dá mais. Mas não reclamo, fazendo o que fizemos nos últimos anos, tivemos até sorte.


CDOROCK - O Dead Fish sempre sofreu com troca de integrantes. Por que acha que isso acontece? Muito difícil achar os parceiros certos?

RODRIGO - Sempre trocamos muito de guitarristas, e isso no começo foi normal, os ex-integrantes da formação original em 96 já estavam em outra e não queriam mais fazer só hardcore, hoje fazem outros tipos de som. Depois de 97 é que ficou mais quente o clima, sempre fomos uma banda muito intensa e da estrada; se você for perguntar pra quem viveu na estrada do meio pro fim dos anos 90 vai ver que nada era fácil, tudo era muito na raça e estar numa van por anos convivendo azeda qualquer relação mais ou menos boa. É muita convivência, tudo se potencializa, dos defeitos às virtudes. Alguns saíram porque tinham que sair mesmo, não eram pessoas que pudéssemos conviver na estrada, esta coisa de índole e objetivos, sabe? Outros saíram simplesmente porque era intenso demais, e numa relação destas uma coisinha mínima ou um mal entendido pode virar um problemão.

CDOROCK - As bandas de hardcore consideradas sérias parecem sofrer um policiamento para que não se tornem comerciais ou "vendidas". Você sente essa pressão dos fãs do Dead Fish e como convive com isso?

RODRIGO - Sentíamos isso no fim dos anos 90 quando lançamos o Sonho Médio. Acho que ali as coisas estavam se tornando realmente mais segmentadas e mais cheias de regras mesmo. Naquele tempo vi isso como um desastre brutal, estávamos perdendo força a meu ver. Acho que no fim das contas nem foi tão ruim assim, quem tinha uma ideia achou seu meio lá, quem tinha outra achou outro meio. No fim das contas não dava pra ser um partido político, né? Eram música e ideias muito extremas envolvidas e, vendo de longe, hoje parece até que a coisa se tornou mais rica em vários aspectos, mesmo o Hardcore se tornando uma turminha muito mais fraca ideologicamente.

Quando isso começou a rolar com a gente, esta cobrança, acabamos nos fechando em nós mesmos, nos nossos objetivos, isso por um lado foi bom pra caralho e por outro foi bem ruim, porque depois da ruptura toda do fim daquela década estávamos muito fechados, já não acreditávamos em quase nada do cenário, seguimos fazendo o que tínhamos e o que achávamos certo fazer, isso até certo ponto nos deu força interna, fizemos um selo, fazíamos nossa distro e armávamos nossas tours. Mas naquele ponto já estávamos isolados de muitas coisas que poderiam ter sido boas para a banda e principalmente pras pessoas ali internamente.

CDOROCK - Em tempos de funk e hip hop, o hardcore se restringiu a instrumento de protesto da classe média?

RODRIGO - Eu não concordo com isso. Esta é só mais uma frase feita pra descredenciar a ideia perigosa que é o Hardcore. Só mais uma frase boba que nego compra baratinho da boca de jornalista branco ou de gente que desistiu da ideia e tem que descredenciar a parada. Nunca foi assim.

Tentando explicar rápido aqui, o que posso dizer é que o Hardcore, e está ai a raiz de muitas brigas internas, sempre foi uma ideia que se negou a se massificar como estilos como o Funk e o Hip hop, nunca existiu a ideia de tornar a coisa mais “palatável” para uma massa, apesar de isso ter acontecido em parte. Também nunca existiu o fator étnico que ajudaria. O Hardcore sempre esteve aí pra quem quisesse mudar de ideia, fazer alguma diferença, de qualquer classe social, é só sair deste pensamento superficial que você vai achar muita riqueza de ideias.

Quando eu ouço este tipo de pensamento me lembro de pessoas que são de Carapicuíba, do ABC, de Vila Velha, de Sobral e milhões de lugares onde existe um cenário e que são de gente da classe trabalhadora ou o que o valha. E tal frase, a meu ver, superficializa a coisa toda.

CDOROCK - Você é vegetariano. Por que é tão comum que o hardcore defenda esse estilo de vida?

RODRIGO - Porque é preciso dar um passo à frente, é preciso ser mais ético, mais bonito, mais saudável! [risos] A ideia do vegetarianismo é só uma das propostas de mudança.

CDOROCK - Que tem achado dessas últimas eleições, em que aborto e direitos civis de minorias têm, mais que nunca, sido temas usados para levantar e derrubar candidatos?

RODRIGO - Têm mais sido usados pra derrubar, né? Eu não voto faz muitos anos porque não me sinto representado; o sistema eleitoral é uma peneira ridícula. Eu até gostaria de votar... E sempre que falam de direitos das mulheres e aborto e direitos humanos e casamento entre pessoas do mesmo sexo, este é um assunto que tira mais votos do que traz.

Gostaria de ter visto este assunto mais discutido principalmente entre candidatos à presidência, mas este parece ser um grande tabu. Marta Suplicy à parte... Acabei ficando bem desagradado de não ouvir discussões boas neste aspecto.

CDOROCK - Rodrigo, conhece queercore?

RODRIGO - Sim, conheço. Mas, como já disse, não gosto muito de segmentar as coisas, eu ouço o que me agrada.

CDOROCK - Como você reagiu e como percebe que as pessoas reagem ao verem pela primeira vez o show de uma banda de queercore?

RODRIGO - É uma viadagem sem precedentes, né? [risos] Alguns amigos mais machos ficaram chocados num primeiro momento, mas depois entenderam a parada. Eu acho uma manifestação legítima.

CDOROCK - Você cantaria uma letra queer?

RODRIGO - Se não fosse uma coisa super cu duro panfletária e com mais humor eu cantaria sem problemas. Acho que o que não me agrada são as pessoas se levarem a sério demais. E isso não parece ser um aspecto do estilo.

CDOROCK - Acredita que o seu público vai se incomodar com uma entrevista e um ensaio para um blog gay?

RODRIGO - Sim, vai. Mas este problema é deles. Resolvam-se.

CDOROCK - Um vídeo bem comentado no Youtube mostra você dando um beijo num cara durante um show. Você fica mesmo tão empolgado em ação?

RODRIGO - Às vezes é só pra deixar o cara sem graça e ele descer do palco, às vezes é só muita felicidade e muita intensidade. Só existe uma coisa que me faz muito feliz hoje, e esta coisa é estar no palco com a minha banda, o resto é muito chato e repetitivo.

CDOROCK - Já te falaram que você é dos mais gatos do rock nacional?

RODRIGO - Sim, já. Minha mulher parou de dizer ultimamente, mas tem algumas pessoas que dizem, sim. Também tem gente que diz que sou o cara mais Paraíba anão peludo do mundo. [risos] Eu não os levo a sério. Minha mãe sempre me disse que eu era lindo e eu acredito nisso até hoje. Pra piorar sou inteligente também, né? Foda...

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