quinta-feira, 28 de agosto de 2014

LIAM GALLAGHER

A arrogância pode ser um abismo no qual se despenca inutilmente. Se não há motivos para ser arrogante, tudo será uma vergonha. E pode ser que a arrogância jamais consiga ser legítima, já que sua existência pode anular suas justificativas.

Ele não se importa. Sempre soube o tamanho que era. Foi assim quando, ao lado do irmão, tomou as rédeas de uma bandinha de amigos, mudando inclusive seu nome, e a tornou numa das mais importantes bandas de rock da década de 1990: Oasis.

Foi assim quando, a cada oportunidade, expôs saber exatamente o seu valor. Não importava os clássicos que o mundo já conhecesse, os novos ídolos que seu país viesse a ter, não importava a parte fundamental que seu irmão representava em sua carreira, Liam era o roqueiro mais importante do mundo.

O olhar sempre altivo, de quem olha de cima qualquer um que o admire. Provocações constantes a outros artistas e brigas emblemáticas com o irmão deram a ele um ar de macho-alfa violento e prepotente. Seu poder aumentava por ser a voz predominante da banda e o rosto do homem que desafiava e chamava pra briga, não importasse o contraste com os versos e acordes das canções.

Liam Gallagher pulou no abismo da arrogância. Fez inimigos e servos. É hoje o vocalista de uma das últimas bandas que, ainda que sumam, não desaparecem, e comemoram alguma coisa. Definitely Maybe, álbum de estreia, comemora 20 anos de lançamento. Clássico de sucessos como Rock'n'Roll Star, Supersonic e Live Forever. Todos escritos e compostos pelo gallagher mais velho, Noel.

Aos 41 anos, bem mais homem que um moleque, Liam segue a carreira com projetos como a banda Beady Eye, com dois álbuns até agora, e ainda algumas provocações ao irmão, como as que renderam o fim do Oasis, após sete álbuns. Pela comemoração de Definitely Maybe, libera junto à banda original uma edição especial, tripla, com muito material extra, de mais de 50 canções.

Liam pode não ser o principal letrista ou compositor do Oasis, pode não ser um mártir imortalizado do rock, pode até mesmo não ser qualquer coisa que lhe disseram que era, mas sabe que há algo de perversamente erótico em sua petulância que o faz um dos mais imponentes caralhos do rock. Pode bater que a gente gosta, Liam.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

DAN O'CONNOR

De modo geral, ter uma banda de rock e associá-la a palavras como “pop” e “happy” nunca é um bom negócio, porque com certeza elas irão se sobressair a qualquer conceito de “rock” que o público de rock possa considerar como rock. Ou, em outras palavras, como legítimo, bom e sério.

Algumas bandas parecem não se importar com essas restrições ideológicas ou musicais ou vocabulares. Há uma bateria, uma guitarra, uns riffs, então é rock, ainda que agregado a “pop”, “melódico” ou outro termo que suavize o que rock signifique. É o caso da Four Year Strong, banda americana de “pop punk” que, ainda bem, ajudou a criar outro termo mais interessante: beardcore.

Beardcore nada mais é que um bando de caras barbados fazendo um som – fazendo rock. “Ah, isto é muito amplo”, vão dizer. E é. Mas é o que há. Nos últimos anos tivemos uma valorização da barba, que o Caralho aprecia muito, e daí surgiram umas bandas novas, que a gente não sabe o nome, com um pessoal barbado, que faz um som que a gente não sabe definir direito, são aqueles caras de barba, aquela banda de beardcore.

Mas, sim, tem o “core”. Desde o primeiro álbum, It's our time, de 2005, cujo lançamento foi de apenas 400 cópias, já se notava o som rápido característico do hardcore. Tinha uma pegada mais adolescente, algo como Blink 182, e depois foi evoluindo, com momentos mais rápidos e mais pesados, ainda que mantendo a mesma influência desse tipo de banda dos anos 1990. Destaca-se nesse período a faixa de título curioso, It Must Really Suck To Be Four Year Strong Now, que abre o terceiro álbum, Enemy Of The World, de 2010.

O quarto álbum, de 2011, In Some Way, Shape or Form, é que mais foge do tom adolescente, inclusive nos vocais. Faixas como The Infected e Heaven Wasn't Build to Hold Me valem a conferida. Este ano, para acabar com os boatos de fim da banda, lançaram o EP Go Down in History, retornando um tanto ao som dos álbuns anteriores. Não se pode esquecer ainda o álbum de covers, de sons de bandas que serviram de influência ao FYS, Explains It All (2009). Todas dos 1990, de Alanis a Nirvana, passando por The Smashing Pumpkins, algumas bandas mais ensolaradas e um incrível “medley” de No Doubt com Pantera.

Bom mesmo é ficar com o beardcore, e com Dan O'Connor, um belo barbudo com porte de um delicioso lenhador. Principal compositor, um dos guitarristas e vocalistas, sempre à frente da banda, com um rosto tão cheio de pelos que deixa aquela vontade de ser arranhado todinho. Vem cá, roça mais, Dan.

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