domingo, 10 de janeiro de 2016

THE FREAKY

A primeira matéria do ano não seria sobre o rock, de tanto que a cena parece careta atualmente. Mas mudamos de ideia: manteremos um pouco de nossas raízes, mergulhando mais uma vez onde o rock parece ainda ter uma sobrevida digna: a cena alternativa. 

Leandro, que se autodenomina The Freaky, começou com sua banda Stranger Danger há uns cinco anos e tenta resgatar e manter o lado transgressor do rock. Não esconde sua sexualidade, não nega sua condição de pessoa com necessidades especiais e conquista a todos com sua coragem e visão. Um bom jeito de começar o ano, então, é com essa entrevista que nos mostra que ainda há o que se esperar no rock. Curtam só!

CDOROCK - Como surgiu a Stranger Danger?

THE FREAKY - A Stranger Danger surgiu graças ao convite feito pelo Lucas (Guitarrista), com quem eu trabalhava numa rede de lojas, para entrar em uma banda que precisava de vocalista. A banda era, até então, um power-trio de punk, hc e indie que sentiu a necessidade de ter alguém para cuidar dos vocais e dar aos outros integrantes mais tempo para se focarem em seus instrumentos. Desde o primeiro ensaio a coisa fluiu muito bem e uma semana depois já tínhamos um nome e em três meses (fevereiro de 2012) fizemos nosso primeiro show e por aí foi...

CDOROCK - Como você definiria o som e as influências da banda? 

THE FREAKY - Sempre digo que é rock alternativo, pois há uma base vinda do punk/indie, mas há também elementos de pop e funk. Eu não curto rotular, mas creio que essa é uma boa “definição”. Atualmente temos um guitarrista (Joseph) que vem de uma escola de hard rock, um batera (Diego Ramos) que curte Blink 182 e RHCP, um baixista (Stronb) que curte punk / hc (Dead Fish / Misfits) e um vocalista fã de muita gente diferente como Spice Girls, Madonna, Linkin Park, Arnaldo Antunes e Tina Turner... Logo... [Risos]

CDOROCK - Podemos dizer que a Stranger Danger tem o seu aspecto glam e queer? 

THE FREAKY - Sim! Adoro glam e queer. Acho muito foda ver artistas dando esse tapa na cara do machismo ainda presente em um estilo musical que deveria SEMPRE ter como norte a transgressão. Foi mais que natural que eu trouxesse isso para a banda, uma vez que amo queer e glam (EltonJohn, David Bowie, Scissor Sisters, Adam Lambert, Teu Pai Já Sabe?). Esse aspecto se mostra presente nas letras (“Genderplay”), no visual (máscara de espelhos e roupas) e na atitude porque não tem graça ser LGBT em uma banda de rock e não explorar essa viadagem que eu AMO!

CDOROCK - Você e os outros integrantes parecem ser pessoas bem diferentes. Como é o convívio? 

THE FREAKY - Temos uma ótima convivência. A gente se diverte muito, especialmente em ensaios e shows. Todos temos vidas corridas (filho/casamentos/empregos), por isso não saímos para “augustar”*, mas o tempo que a gente passa junto é, sempre, uma oportunidade de dar risada e fazer um som.

(*Referência à rua Augusta, de São Paulo, região de muitos bares e baladas alternativos)

CDOROCK - Tem sido difícil manter uma banda independente? 

THE FREAKY - Por hora minha resposta é: “Até que não”. Pois já conseguimos tocar em locais fodásticos como o Queers & Queens e Mix Music, parte musical do Festival Mix Brasil e estar em contato com uma galera com uma vibe muito legal. Em 2016, com a gravação de novas músicas, a tendência é tocarmos em todo buraco que tenha espaço e o mínimo de estrutura para fazer um show legal.

CDOROCK - Você é bem aberto sobre sua sexualidade. Como isso influencia na sua música e na relação com o público? 

THE FREAKY - Estar no armário nunca foi uma opção para mim por motivos de: eu sou muito sexual, estou muito bem resolvido em relação a minha orientação sexual e sei o quão importante é ter representatividade.  Musicalmente isso me influencia no sentido de poder ter a liberdade de tratar sobre sexualidade (e sexo) nas letras e no palco sem precisar me autocensurar. Isso naturalmente atrai uma galera muito fodástica e interessante para perto da banda. Adoro a ideia de juntar várias pessoas com mentes e olhos abertos para fazer uma farra.

CDOROCK - Você também trouxe uma importante questão nas redes recentemente, sobre as pessoas com necessidades especiais. Acredita ser muito diferente ser um "PNE" à frente de uma banda de rock? 

THE FREAKY - É... Além da questão da orientação sexual, outro aspecto que não tenho como “ignorar” é o fato de eu ser PNE (Pessoa com Necessidades Especiais). Seja estando à frente de uma banda de rock, sendo professor, designer, advogado ou até tendo vida sexual/afetiva, ver um PNE interagindo de forma ativa na sociedade ainda soa como novidade, mas isso é lindo e só faz bem, uma vez que a sociedade está acostumada a só ver PNEs em campanhas com fins beneficentes ou em momentos embaraçosos,  nos quais somos apresentados como coitados. #SintoNáusea. Falando sobre mim: Fui criado ouvindo que “eu posso fazer o que eu quiser” e isso me ajudou a nunca colocar o fato de eu "andar diferente" à frente do que eu quero fazer ou conquistar (só aumenta o meu nível de exigência comigo mesmo). Eu não conheço outro PNE que esteja à frente de uma banda de rock... #Eita! Ah, temos Hebert Viana do Paralamas e Marcelo Yuka que era letrista e tecladista do O Rappa (mas ambos se tornaram PNEs após acidentes). Me senti vanguarda [Risos].

CDOROCK - O que você enxerga de melhor e pior no rock nacional? 

THE FREAKY - Amo muito nosso BRock. Tem muita coisa foda que vai desde os Secos & Molhados, Os Mutantes, Titãs, Cazuza, Legião, Cássia Eller, Pitty, Wry e até colocaria Tulipa Ruiz nessa roda, pois é gente que agrega e vai além. Pior? Esbarro com bandas novas que já se acham no direito de ter ego inflado e se isso já é tosco em artistas grandes, em bandas que ainda estão saindo da garagem, isso fica muito, mais muito feio. Falando sobre bandas grandes, há criaturas que reclamam que toca muito sertanejo e pagode nas rádios, mas morrem de medo de saírem do underground; logo, não fazem por onde mudar o quadro e ainda criticam quem o faz. Creio ser bastante possível fazer algo fodástico sem precisar virar marionete, mas para isso é necessário ter voz ativa, personalidade e ralar, ou seja, coisa que muitos preferem não fazer. Cada um, cada um. 

CDOROCK - E na cultura gay? 

THE FREAKY - RuPaul é, atualmente, o ícone gay mais comentado graças ao RuPaul’s Drag Race que está causando um boom de drag queens (que eu A-DO-RO); há também muita gente famosa se assumindo e passando a mensagem de “It’s ok to be LGBT!”, além de festas feitas para a parte do publico LGBT que curte rock e coisas que vão para além do que é visto como óbvio para um público gay. Sem esquecer de George Michael,  Madonna, James Franco (Delícia) e Ellen DeGeneres. De pior? Ainda há artistas que são LGBTs, mas preferem não “levantar bandeira” e tratam isso como se fosse algo muito pesado/desnecessário, enquanto há artistas héteros fazendo discursos lindos contra LGBTfobia. Cada um tem o direito de fazer o que bem quiser com sua imagem/fama, só não podemos esquecer que ainda somos parte do país onde mais se mata LGBTs e, muitas vezes, tudo que as pessoas preconceituosas precisam é de INFORMAÇÃO. Quando você se nega a fazer essa pequena diferença você está resolvendo fingir que a coisa não existe...

CDOROCK - Como podemos acompanhar a Stranger Danger, ouvir o som, acompanhar as notícias?

THE FREAKY - Temos: twitter - @StrangerDangerO;
instagram - @strangerdangerrock;
(coisa bakarayo). Acessem os links!

Fotos: Guilherme Marques

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